Pequenas felicidades
Lia chegou no ponto de ônibus cansada de um dia que nasceu para não dar certo. Ela teve aquela sensação, quando acordou atrasada, de que aquele dia prometia. Enquanto esperava seu ônibus, que provavelmente viria entupido de corpos cansados como o seu, observou a cena que se desenrolou ao seu lado.
Um homem alto, meio impaciente, grita com seu filho. O garoto quer um chocolate, mas o pai mal ouve o menino, que aparenta ter uns cinco ou seis anos, pois o seu celular toca insistentemente. A criança começa a chorar, clamando pela atenção do pai, que o ignora.
- Deixa de choro, menino! Homem não chora, ainda mais por uma bobagem dessas.
O homem senta a criança no banco do ponto do ônibus, bem ao lado de Lia, e se afasta para atender a ligação. O menino chora um choro ressentido. Lia comove-se.
- Adorei a tua blusa! - fala Lia baixinho.
A criança olha para a blusa e abre um sorriso animado.
- É do Super-Homem! É o meu super herói favorito.
- Se eu te contar um segredo, você guarda?
- Sim!
- Você sabia que o Super-Homem também chora?
Surpreso, o menino pergunta:
- De verdade?
- De verdade! Mas não conta pra ninguém, tá?
Lia faz um gesto de silêncio para o garoto, pois o pai está voltando. O garoto assente com a cabeça e com um enorme sorriso. O ônibus de Lia chega. Lotado. Ela, no entanto, está feliz. Graciosamente feliz.