Maldito Cavalheirismo

12:00 h

Hora do almoço, João sai da empresa e se dirige ao restaurante que fica do outro lado da rua, atravessa entre as pessoas, o sol está forte, João está de gravata e paletó, as pessoas passam, algumas com roupas claras e curtas, mas João de gravata e paletó, por isso João não gosta do calor, do verão.

Sentou-se no mesmo lugar de sempre, na mesa ao lado de costas para ele estava uma mulher, estatura média, cabelos compridos, pretos e lisos, trajava um vestido vermelho e saltos altos. João espera ser atendido, logo percebe que a mulher havia sumido e deixara uma maleta marrom na cadeira — onde ela foi? — pensou. De repente a vê saindo pela porta, não pensou duas vezes, pegou a maleta e foi atrás para entregá-la.

Saiu do restaurante, olhou de um lado ao outro, as pessoas passavam rápidas e falavam extremamente alto, isso o atrapalha na busca de visualizar a desconhecida, ele franziu a testa — cadê ela?. Avistou ao longe um ponto vermelho, só podia ser ela, foi andando ao seu encontro, mas ela estava longe, apertou o passo e ela parecia também ter acelerado, João desviava de alguns e esbarrava em outros, e a mulher continuava distante, ele começou a correr, primeiro devagar, depois mais depressa, o calor, o sol em seu rosto, limpou com o braço o suor da testa — odeio calor — bateu em um vendedor de sorvete, ouviu um xingamento, continuou a correr, como ela podia andar tão rápido de salto? Não sei, mas ela andava, e cada vez mais, joão suava, sentia as costas da camisa branca social ensopada. Agora ela parara no sinal, estava perto, ele se aproximou, mais perto, três metros, dois metros, um metro, ela estava em sua frente, mas não o via, ele parou, respirou e...

O sinal abriu, ela atravessou, ele permaneceu estático por alguns segundos, acordou e foi seguindo-a novamente, ela desceu escadas, João desceu também, quebrou uma esquina, ele também, entrou numa estação de metrô e sentou-se num banco. João a viu lá sentada, chegou ao seu lado e disse:

— Com licença moça, você esqueceu sua maleta no restaurante.

Ela o olhou desconfiada e com uma cara nada satisfatória, mediu-o de cima a baixo até ver a maleta , esticou a mão, pegou-a e falou:

— Ah obrigada. E foi embora.

Ele ficou estático, parado. Só isso? Nem ao menos um sorriso?. Nada, só um obrigado e ainda mal falado, ele olhou para si mesmo, estava todo suado, o seu relógio marcava 12:45 h, andara mais de meia hora, tinha que voltar para o serviço. Pegou um ônibus, por causa do trânsito chegou atrasado, ia levar bronca do chefe, João irritou-se, ele podia ter deixado a maleta onde estava, depois quando desse falta ela mesma voltava e buscava — maldito cavalheirismo — pensou bravo.

Parou em frente a porta do trabalho, cansado enxugou o rosto com a gravata — ai esse calor meu Deus.

Kessia Rez
Enviado por Kessia Rez em 04/09/2015
Reeditado em 09/09/2015
Código do texto: T5370893
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