Dona Fulustreca
Dona Fulustreca era uma pessoa de confiança na família de Aluizo e Merença. Conhecida de muitos anos, já passara e engomara. Trocava as fraldas de Tio Mauricinho, enquanto ele era pequeno. Depois das fraldas chegaram as cuecas de Tio Mauricinho. Uma velha conhecida da família que já trabalhara como passadeira de roupas na casa de Aluizo e Merença. Deixou de trocar as fraldas do tio Mauricinho chegando ao tempo de passar e engomar as camisas sociais do tio Mauricinho. Passagens de um tempo distante, bem antes da Tia Caloteirinha assumir a posição de passadeira oficial da família.
Tempos tão antigos fizeram parte daquela família e de dona Fulustreca, chegando a uma época que também rolou uma paixão entre dona Fulustreca e o Tio Mendiguinho. Algo ligando em cima e esquentando em baixo. Por pouco dona Fulustreca não aceitou e acreditou nas palavras de Tio Mendiguinho, que dizia: “panela velha é que faz comida boa”. Viu dona Fulustreca passando roupa e quis passar o ferro na velha.
Tio Mendiguinho já fora empresário bem sucedido. Tio Mendinguinho já fora gerente de um trailer. O “Trailer Classe C”, nos tempos do dinheiro chamado de cruzeiro. Um trailer que vendia cachaça, conhaque, cinzano e caipirinha; cigarros, cervejas e caldinhos. Localizado em um canto, perto do cemitério da Cacuia. Mas o empreendimento foi para as cucuia. Tio Mendiguinho ganhou o diploma de “Freguês Classe C”. Um diploma idealizado, promovido, patrocinado e confeccionado por ele mesmo. Ele comeu e bebeu, criou o premio e ganhou.
A confiança depositada na Fulustreca era tanta que a Tia Professorinha contratava dona Fulustreca para ser dama de companhia de Lady K. Dona Fulustreca era alem de passadeira, e dama de companhia, era uma eximia cozinheira. Quando a Tia Professorinha deixava algo para o almoço, antes de sair para trabalhar. Um almoço já meio pronto, meio encaminhado para dona Fulustreca e Lady K. Como por exemplo, bifes já cortados e temperados, faltando apenas fritar. Dona Fulustreca transformava os bifes em apetitosos picadinhos, picando os bifes já prontos e temperados, acrescentando água e colocando para cozinhar. Ao terminar o preparo reinava uma duvida claro, em saber se era uma sopa ou um caldinho. Terminada a
refeição Fulustreca acomodava-se no sofá da sala para encontrar uma melhor posição, deitar, dormir e cochilar. Era comer, olhar para a TV, cair, e dormitar, chegando a roncar.
Hoje Lady K, já não tem mais a dama de companhia e não namora mais o Viniçu. Esta noiva de Chon, um chinês nascido nos EUA, que agora mora no Brasil, e é dono de uma loja que vende roupas e acessórios fabricados na China. Vende roupas no planalto central durante a semana, no estilo sacoleiro. E no Rio de Janeiro, trabalha na loja, nos finais de semana, o dia inteiro.
Por muito tempo depois de terminar os tempos de jornadas, em passagens e passadeiras, dona Fulustreca frequentou e frequentava a casa de Aluizo e Merença. Sempre discreta, chegava sem avisar. Dona Fulustreca não era uma pessoa chegada a luxos, bastava lhe dar um pirão dágua com farinha, para ela dizer que a comida estava uma “diliça”. Depois de fartar o bucho e encher a pança, dispensava um café e uma sobremesa, lhe bastava um lugar para sentar e cochilar. E aguardar a hora do café chegar.
O café da tarde com a pontualidade das quatro horas era uma das únicas coisas que prestavam na casa de Merença e Aluizo. Com um pão quentinho de uma padaria próxima, vinha sempre a calhar, sem encalhar.
RN, 13/01/15
http://chaodepato.blogspot.com.br/2015/01/dona-fulustreca.html
http://semanajoaocandido.blogspot.com.br/2015/01/dona-fulustreca.html