EITCHA TEMPO BÃO, SÔ
Sandra Mamede
Mês de junho entra, e com ele as festas juninas, para quem mora no Nordeste, é claro. Hoje, na Bahia o S.João transformou-se num segundo carnaval. Os principais blocos e os cantores famosos organizam forrós em suas fazendas e chácaras, vendendo camisas e convidando vários tipos de cantores para participarem do evento. É evidente que existe o forró, mas um forró carnavalesco e não aquele forró pé-de-serra com os seus instrumentos típicos.
Tudo isso me fez lembrar do São João da minha época. Tinha uma vizinha minha que rezava a quinzena de Santo Antônio, era uma participação em massa. Moços, velhos , não existia acepção de raça, idade, estado civil, era a hora da união e de pôr em prática a fé. Cada dia da quinzena era dedicado a uma classe; noite das moças solteiras, das viúvas, das casadas...etc... Depois de toda a cantoria, era a hora mais gostosa, distribuição do famoso licor de jenipapo, bolo, refrigerante etc..
Os colégios distribuíam carnês para pedirmos a colaboração da comunidade em comprar o ticket em nossa mão a fim de elegermos a nossa rainha, a sala que vendesse mais ticket, elegia a sua “rainha do milho”, eram as loiras em plena ascensão.
As salas eram organizadas e ornamentadas com motivos juninos, comidas típicas, licor, forró, adivinhação, quadrilha, nossa... era uma grande confusão, pois era a única oportunidade que tínhamos pra tentar escolher como par “aquele” menino que estávamos de olho. As simpatias...ah...eram tantas, queríamos fazer todas, queríamos saber como quem íamos namorar, se íamos casar, quem nos amava em segredo ou se íamos ficar para “titia”. Lembro ainda de algumas: pegar uma faca virgem e enfiar na bananeira meia noite e no dia seguinte estaria gravado na faca as iniciais do nosso futuro marido. Colocar uma clara num copo de água virgem, também meia noite e no outro dia verificarmos qual a forma que ela tomou....se de véu, de igreja, de caixão. Tudo era muito lindo, as casas arrumadas tipicamente como casas da roça, a mesa farta com canjica, milho cozido, mingau de milho,de tapioca, bolo de milho, de aipim, de carimã (mandioca), os licores de todas as cores e sabores, cajá, passa, ameixa, e o famoso e mais típico de jenipapo, era realmente uma festança. Vestiamo-nos a rigor, a famosa caipira, cabelos partidos em “maria-chiquinha”, pintinhas no rosto, vestidos rodados e cheio de babados, os meninos maquiados de homem mais velho, bigode, costeleta, chapéu de palha, calça jeans cheias de remendo, dessa forma completávamos a decoração. Ficávamos à porta soltando fogos...as famosas e perigosas “cobrinhas”, as inofensivas “estrelinhas” os traques de massa e as insuportáveis “bombas”. E os balões? Hoje sabemos que são perigosos e proibidos, mas que era muito lindo ver o céu coberto de balões, ah isso era.
Em todas as casas, as famosas fogueiras, aproveitávamos para sentarmos em volta, jogando prosa fora e assando milho e soltando fogos.
Hoje só vemos um caipira quando as crianças vão para a festa da escolinha, as casas já não têm mais aquela fartura de comes e bebes, as escolas já não têm mais as rainhas do milho e também não têm mais a festa junina, o feriado é considerado somente mais um dia sem muita importância...
E assim vemos, as tradições sendo esquecidas sem que possamos fazer nada, pois a juventude acha que tudo isso é “demodê” ... passado... e que não vale a pena recuperar...