Ou você já esteve aqui...
Abraçaram-se forte e ao mesmo tempo distante. Sabia que aquela seria a última vez. Sabia que o tempo dos dois já havia passado. Mesmo que não tivesse sido tanto tempo ou não tivessem vivido tantas coisas juntos. Coisas dessas comuns a casais em longos relacionamentos. Na verdade, era ainda jovem demais para isso. Mas este não era o fato. Não havia existido peso algum ou nada que tivesse saturado a relação dos dois. Não se tratava disso. Era ainda jovem demais para ter conhecimento dessas coisas da vida. Tinha o amado muito e ainda guardava por ele enorme carinho. Sabia que dali há alguns anos lembraria com o mesmo apreço pela figura que ele representava e sempre representaria em seus 15 anos.
O amor proibido que haviam vivido, contra a vontade e, em princípio, contra o conhecimento de seus pais. Já que ele representava tudo o que eles não queriam para sua amada única filha mulher. Ah se eles soubessem quão gentil e carinhoso ele era... o quão preocupado e respeitoso... Talvez não encontrasse mais nenhum rapaz assim em sua vida, que admirasse tanto mais sua alma e seu coração quanto qualquer outra parte de seu corpo! Mas agora, ali abraçados e escondidos do mundo, como sempre foram seus encontros, nada mais disso fazia diferença. Ao menos não como antes, quando o que sentia por ele era tão forte e tão desafiador, que a encorajava a lutar contra tudo e contra todos, mesmo que veladamente. Mesmo que só em seus sonhos de menina romântica apaixonada e mergulhada na realidade do proibido.
Tudo estava estranho agora. Depois de tanto tempo sem se verem, nem o abraço era mais o mesmo, por mais ansioso ou apertado que fosse. Por mais amoroso... “Você tão calada e eu com medo de falar...” começaram assim os dois e ela pensou que realmente não sabia se era hora de partir ou de chegar.
Sentia a certeza crescer em seu peito, enquanto os braços dele envolviam os seus; enquanto não ouvia uma só das palavras que ele pronunciava –agora- empolgado, um tanto assustado, falando de seu amor e da falta que sentiu dela; contando sobre como haviam sido os dias em que passaram distantes um do outro, em como desejou ardentemente encontrá-la, abraçá-la, beijá-la... Sentia a certeza tomar conta de todos os cantos de seu coração- não o amava mais. Não o amava mais e era como na canção de Raul, que não parava de cantarolar em seus pensamentos, repetidas e repetidas vezes, como que consolando a si mesma ou simplesmente dando aquele momento uma trilha sonora a altura que merecia: tudo já passou, o trem passou, o barco vai... isso é tão estranho, que eu nem sei como explicar...
Suspirou fundo e acariciou o rosto dele com o maior carinho do mundo. Ele que parecia nem se dar conta da realidade que os cercava. “Diga, meu amor, pois eu preciso escolher...” continuou cantarolando em pensamento. Beijou sua testa, com afeto... “apagar as luzes, ficar perto de você... Ou aproveitar a solidão do amanhecer (que naquele caso já era entardecer) pra ver tudo aquilo que eu tenho que saber...”