VERDUREIRO POR DELEGAÇÃO

Papai plantava verduras pelas minhas mãos, embora eu fizesse os canteiros e o viveiro era ele quem gerenciava. Tudo tinha que estar alinhado, tipo os desfiles russos, então para nada dar errado montamos um um gabarito, um retângulo com ripas, daquelas utilizadas para suportarem telhas de barros, 2,5 por 2,5 cm. O retângulo tinha 1,20 por 3 m, as ripas recebiam a cada 30 cm um preguinho 12 por 12, daqueles utilizados para pregar mata-juntas, um cordão era amarrado em cada preguinho até o outro lado e assim formando uma espécie de rede. Nos encontros dos cordões eu enfiava a ponta do dedo e fixava uma mudinha de couve, de alface, de mostarda ou de cenoura conforme fosse o canteiro. As vezes eu esquecia e fazia o buraquinho ao sudoeste do encontro dos cordões e lá vinha a bronca, pois eles deviam estar ao nordeste.

Hoje penso que ele tinha o tal de TOC, mas de preguiçoso, pois não pegava na enxada.

Depois de 2 anos no estaleiro, já aposentado, ou melhor inválido conforme a legislação, retomei a atividade física, inclusive podendo pegar na enxada, pá e outras ferramentas para agricultura. É lógico que observando intervalos de descanso e sem levantar pedras.

Entretido nem dei-me conta se podia ou não transplantar beterrabas e cenouras e lá fui eu com um espeto velho fazendo buracos ao olho e largando as mudinhas, de repente tive a sensação que alguém me observava e instintivamente lembrei-me de papai. Sem muita coragem olhei em volta e nada, até que levantei os olhos e sobre o muro de quase 3 m de altura e lá estava um dos gatos do telhado me observando e acompanhando o que eu fazia.

Assim que o tempo melhorar reproduzirei o gabarito de cordões em homenagem ao papai!

ItamarCastro
Enviado por ItamarCastro em 01/09/2015
Reeditado em 01/09/2015
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