CAFUNDÓ

Cafundó é uma palavra que nos remete a um lugar demasiadamente distante, talvez até intransponível. E é isso mesmo. O Cafundó que nos emprestou a sua denominação para esse significado é um quilombo.

A palavra quilombo vem de “kilombo” da língua quimbundo, uma língua angolana, de origem banta, e significa “local de pouso”. No Brasil, os africanos e afrodescendentes que foram escravizados se reuniam em quilombos situados em locais inacessíveis para se livrarem das perseguições e maus-tratos por parte dos “senhores de escravos”.

De acordo com a definição da Associação Brasileira de Antropologia, um quilombo é “toda comunidade negra rural que agrupe descendentes de escravos, vivendo de cultura de subsistência e onde as manifestações culturais têm forte vínculo com o passado”. É uma definição moderna, de 1989, para definir povoações quilombolas do país.

No ano de 1866, antes da abolição da escravatura, um fazendeiro conhecido por Joaquim Manoel de oliveira resolveu libertar os seus quinze escravos, dando-lhes um lote de 218 hectares de terra para que viesse a se beneficiar. Com o passar do tempo, aproveitadores aproveitando-se da ignorância dos quilombolas, foram se apropriando das suas terras, sobrando hoje apenas 8 hectares de terra onde sobrevive o quilombo do Cafundó. A comunidade está situada no município de Salto de Pirapora, no Estado de São Paulo, a 30 quilômetros de Sorocaba e a 150 quilômetros da capital do Estado.

Dos libertos pelo fazendeiro Manoel, o casal João Manuel de Oliveira, mais conhecido por João Congo, por ter nascido na África e Ricarda foram os iniciantes da comunidade e por intermédio de suas filhas Antônia que se casou com Joaquim Pires Cardoso e Ifigênia, que se casou com Caetano Manoel de Oliveira, surgiram da duas famílias que constituem o povoamento do Cafundó.

A comunidade vive da agricultura de subsistência (hortaliças, milho, feijão, mandioca, árvores frutíferas) e da criação de galinhas e porcos. Há também o plantio de ervas tradicionais utilizadas na medicina e nos cultos de candomblé que é a religião dos quilombolas. O Cafundó conserva as mesmas características do tempo de sua criação, com suas casinhas de taipa, sapê e fogões a lenha.

O Cafundó tem o seu dialeto próprio que vem dos primórdios da ocupação. É conhecido como Cupópia, que significa “conversa” e é constituído por uma mistura de português com várias línguas de origem banta, tais como línguas quimbundo de Angola (Luanda, luvale, ngangela) e Congo (umbundo e kikongo). Com esse vocabulário os quilombolas conseguiram se comunicar durante décadas. Segundo se conta, a Cupópia surgiu da necessidade dos negros se comunicarem sem que os brancos entendessem. Hoje em dia todos falam o português caipira e alguns falam a cupópia, conversando no dialeto quando na presença de estranhos.

De acordo com o professor Sílvio Vieira de Andrade Filho, esperto na cultura do Cafundó, esse dialeto se utiliza de figuras de palavras para suprir as restrições de vocabulário, visando às possibilidades de expressão dos falantes. Em Cupópia temos basicamente 160 itens lexicais cuja maioria é composta de nomes, 15 verbos, 13 qualificativos e dois advérbios.