Inteligência e felicidade

Descobri, ao ler um livro tempos atrás, este mínimo poema de Helena Kolody: "Buscas ouro nativo entre a ganga da vida. Que esperança infinita no ilusório trabalho... Para cada pepita, quanto cascalho!". Digo que para mim, ao ler isto, achei uma grande pepita. E relacionei o cascalho e a pepita em muitas coisas da vida. Hoje, está cada vez mais difícil encontrar as pepitas, visto a abundância de cascalho por aí existente. E não é diferente também para a felicidade. A felicidade talvez seja aquilo que mais procuramos, e na verdade, quem é que não quer ser feliz? Mas invertendo a situação, ou seja, o escrito, e até o poema ilustre de Helena, vou na contramão do seu pensamento no caso da felicidade. Acredito haver muitas pepitas, em abundância, quando na verdade, vamos em busca mesmo é do cascalho. Explico esta afirmação com um outro pensamento, uma outra pepita que encontrei estes dias, uma pequena frase de Mário Quintana: "Quantas vezes a gente, em busca da ventura, procede tal e qual o avozinho infeliz: em vão, por toda a parte, os óculos procura, tendo-os na ponta do nariz!".
Sem sombra de dúvida, nestes dois pequenos mas grandiosos poemas encontrei pepita e felicidade. E encontrei algo mais: inteligência. E para encontrar as tais pepitas, a tal felicidade, a inteligência, não é nada difícil, nada exorbitante. É simplesmente como se acordar de manhã cedinho e, ouvindo o cantar dos pássaros, tomar, degustando gota a gota, aquele cafezinho quentinho, espumando, fumegante, observando como aquela fumacinha se forma e dali a pouco já não existe mais, e lembrar-se de que a vida é simplesmente assim, uma fumaça que se desvanece tão rapidamente.
E olha que eu nem gosto de café. Acredite quem quiser, gosto mesmo é de ver aquela fumacinha que sobe da xícara, quase invisível, que aparece como um relâmpago, para logo se desvanecer. E que bom seria se, além da xícara de café, do pãozinho com manteiga, a gente também criasse o hábito de degustar, pelo menos, uma xícara de livro. Sim, porque a leitura a gente também bebe, e esta sim, bebo de gosto, aos borbotões. Mas isto seria assunto para outra crônica.
Allves
Enviado por Allves em 31/08/2015
Reeditado em 06/02/2020
Código do texto: T5365438
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