O filme
O filme
No horizonte de nossos sonhos a vida passa lentamente, como em um enredo cinematográfico. Nossos personagens vão cumprindo sua participação em um filme onde os mocinhos não têm uma outra pessoa para viver as cenas perigosas e nem sempre o filme terminará com um ardoroso e demorado beijo.
Diante de uma realidade que não tem como fugir da intensidade de sua ação, vamos assistindo o calendário sendo desfolhado sem ter o direito de ler o roteiro do dia seguinte e nos prepararmos para os perigos e dos bandidos que se escondem nas sombras de nossos temores . Não há como escapar do futuro que se torna presente na mesma intensidade que o presente esvai-se como a vida foge do moribundo alquebrado pelos dias meses e anos. O presente que nunca fica, e nem sempre o passado passa como gostaríamos.
O nosso amanhã pode estar tão distante como o ontem que nunca volta. Nosso diretor que nunca vemos, não nos avisa quando o filme irá terminar, e nossa preocupação com as cenas vividas, não nos deixa partilhar das alegrias dos outros atores, que também como nós, desejam buscar essa tão sonhada felicidade.
No escuro do cinema, olhar ávido por cenas cheias de ação, não se preocupa em saber que os atores deste enredo real também sofrem ante a necessidade de encontrar um pouco de paz.
Quando o filme termina os personagens deste filme da vida real desaparecem e voltam a sua origem onde assumem sua verdadeira realidade, enquanto os espectadores os guardam em sua lembrança e cada um deles forma seu próprio enredo dando a cada personagem o final que gostariam de ter.
Assim é nossa vida. Um filme dentro de um outro filme. Num ciclo contínuo e infinito, personagens e espectadores interagindo numa busca de seus próprios sonhos.
È preciso estar atento, pois antes que o cinema se esvazie, e a fita parta ante a o desgaste do projetor já surrado por tantas sessões, um dia, nossos personagens deixarão a tela e bandidos e mocinhos darão as mãos e finalmente, num fato inédito e belo encontrarão seu criador. Criador e criatura se fundirão em um só numa harmonia perfeita perpetuando o milagre da criação e da vida.
Gilmar agosto de 2004