O lado invisível da vida

Eu gosto de olhar nos olhos dos gatos, gosto de mergulhar na íris de seus olhos, gosto do jeito como piscam e da delicadeza que se movimentam, gosto de ouvir diferentes miados, de observar como as suas patas ficam fofas quando se apoiam no chão, de vê-los dormir e de observar a cor interna da sua boca quando bocejam.

Gosto do barulho da buzina do guarda noturno que passa as meia noite esquadrinhando o bairro.

Gosto da voz de meu vizinho e de ficar ouvindo ele falar de Matemática encostado no portão da minha casa.

Gosto de ouvir um desconhecido tocando ao longe violino.

Gosto do silêncio e do desertar das ruas aos domingos, de atirar pedras quando estou no campo e de ficar descalça deixando a correnteza do rio acariciar os meus pés.

Gosto de bolar planos de coisas para fazer quando sei que ficarei sozinha. Gosto de ficar sozinha, e quando isso, ficar conversando com o nada, brigar com aquele urso vermelho e assistir filmes antigos.

Gosto de olhar coelhos comerem folhas e roedores roerem amendoim.

Gosto de ficar observando fio por fio do cabelo de quem senta na minha frente.

Gosto de andar em ruas repletas de desconhecidos, gosto de ver os hipsters andando de bicicleta.

Gosto do jeito que as pessoas mechem os lábios ao conversarem em fracês.

Gosto do jeito como hippies se sentam no chão vendendo bijuterias.

Gosto de ver como as borboletas mechem as asas quando estão voando, gosto de ler pensamentos ou ao menos fingir que leio.

Gosto de acreditar que não sou comum e fazer de tudo uma missão.

Gosto de ver cães Basset, de olhar os seus olhos que vivem sempre em uma expressão de súplica.

Gosto ver pessoas dormirem. Gosto de anotar coisas e de desenhar coisas incomuns.

Gosto de olhar os dentes das pessoas, gosto de vozes roucas.

Gosto de olhar para alguém quando não está vendo, de criar uma vida para ela e tentar perceber o que ninguém percebe.

Gosto de olhar fotos antigas, de visitar o asilo e ver os olhos azuis e ainda vivazes de seus Antônio, gosto da forma como sua pupila se contrae quando está feliz e do formato do seus olhos.

Gosto das roupas que usavam na década de trinta, gosto ver as pessoas calçando sapatos e colocando brincos.

Gosto do barulho da água fervendo, do barulho que faz quando se rala cenoura.

Gosto de doce de chuchu, de açaí, das explicações de meu avô e de quando ele mente pra mim.

Gosto da forma como minha prima respira, do jeito estranho que meu primo anda, gosto da expressão de indignação da minha irmã, da forma como minha mãe mostra os dentes ao sorrir e da forma que meu pai penteia o cabelo sempre errado.

Gosto de olhar pássaros voando, de ver sorrisos quando estou triste.

Gosto de gostar, de amar sem pretensão, de viver sem pretensão, de receber sem pretensão.

Gosto de pessoas estranhas... E divertidas!

Que não fingem um enredo e não colocam pessoas no seu enredo sem permissão.

Gosto de pessoas que sorriem do nada, que acham graça do nada, que amam do nada, que desamam na mesma rápida velocidade que pensavam amar alguém!

Gosto da lua em suas várias lunações...

Gosto, simplesmente gosto de tudo que é simples e que não precisa se fazer grandes esforços para aceitar!

Gosto de tentar não piscar os olhos, de tentar não respirar, gosto da forma como meu coração bate, gosto de ouvir meus próprios batimentos.

Gosto que leem o que eu escrevo, gostei de você ter lido isso!

Obrigada!

Andrea A Gonçalves
Enviado por Andrea A Gonçalves em 30/08/2015
Reeditado em 01/09/2015
Código do texto: T5364745
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