Esta Europa que nos envergonha

“A indiferença faz sábios e a insensibilidade, monstros.” Denis Diderot

Quando o dinheiro circula em diversos níveis, não existe nada a fazer, a não ser esperar que as redes criminosas arranjem outros e mais lucrativos negócios.(refiro-me ao caso específico das redes de tráfico humano)Por isso os dramas terríveis dos migrantes que tentam chegar à Europa não irão ter fim. Por muitos discursos que façam os políticos, os discursos não resolvem nada, os políticos sim, poderiam fazer, mas por detrás das suas lágrimas de crocodilo os dramas dos migrantes são-lhes tão insensíveis como o pó das estradas percorridas por essas vagas de pessoas que parecem não ter fim.E em último (e derradeiro) caso decreta-se um “estado de excepção” e manda-se a tropa para as fronteiras com ordens de disparar a matar em caso de necessidade, arranjam-se outros discursos para justificar tal e a vida continua….Devo acrescentar que alguns "notáveis" países europeus têm responsabilidade directa e indirecta em parte desta crise: directa: derrubaram o ditador líbio não porque este fosse um ditador mas porque ameaçou revelar negócios sujos que alguns líderes europeus mantiveram com ele. Quando ele caiu, instalou-se o caos neste país, permitindo que as redes de tráfico humano o usassem livremente como uma das suas plataformas de acesso à Europa. Responsabilidade indirecta: quando começou a guerra na Síria, em vez de apoiar de imediato os rebeldes (fazendo com que o ditador sírio caísse depressa, o que permitiria que a Síria não se tivesse desintegrado), hesitou, a guerra aumentou de escalada e com esta muitos milhões de sírios tentaram e tentam sair do agora estado falhado. Agora a Europa mostra-se espantada...Isto é um misto de amadorismo político com cinismo...Mas uma Europa que liquidou os seus estados sociais, alegando que “não há dinheiro”, enquanto o dinheiro nunca falta para grandes corporações e sobretudo para o sector financeiro, (ambos que se fartam de se queixar do “intervencionismo estatal”) mas ao qual recorrem quando as suas aventuras económicas redundam em desastre (algo de recorrente…), a Europa certamente que irá dar uso aos migrantes que permitirem que fiquem por cá, um uso “bem digno” como mão de obra barata –se é que paga de todo… - , dizendo para si própria, para se justificar, de que mais vale a miséria que lhes dão do que a miséria de onde vieram…

O sonho de uma Europa unida, igualitária, todos os princípios humanistas que nortearam essa realização morreram; a Europa está de pé apenas porque ainda ninguém lhe disse que está morta, porque ainda ninguém teve coragem de lhe dizer tal , e com esse gesto poder salvar o que ainda resta do sonho europeu…Triste, muito triste o estado a que chegou esta Europa...

Miguel Patrício Gomes
Enviado por Miguel Patrício Gomes em 30/08/2015
Reeditado em 30/08/2015
Código do texto: T5364233
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