"PAI, PASSEI PARA HARVARD"!

Em 2012, quando Tábata Pontes, 19 anos, ex-estudante de uma escola pública na periferia de São Paulo, deu a notícia ao pai, cobrador de ônibus, de que havia passado para uma das mais conceituadas universidades do mundo, não sabia que ficaria órfã, três dias depois. Tábata, atleta dos livros, participava das olimpíadas das escolas públicas desde os 12 anos, ganhou cerca de trinta medalhas e uma bolsa de estudo em um colégio particular que passou a investir na sua educação até sua ida para os EUA.

Esse caso é uma gota no oceano do ensino brasileiro, principalmente nas escolas públicas. A educação é direito de toda criança e adolescente e dever do Estado. Sua efetividade não se resume ao simples acesso a uma vaga, mas também à permanência. Além disso, é de direito que tenha acesso ao regresso e ao sucesso. O aproveitamento de uma parte significativa dos alunos está muito abaixo do que podemos desejar e entender como sucesso.

A permanência na sala de aula não importa em aprendizado, é preciso que governo, escola e magistério estejam alinhados com o sistema pedagógico, quase como o alinhamento completo entre todos os planetas do sistema solar, porque estamos em uma situação degradante e perdendo muitos dos nossos jovens para as drogas, que é um caminho de portas largas na entrada e de janelas estreitas na saída.

Enquanto os governantes ridicularizam os professores negando condições dignas para lecionar, a educação deixa de ser um direito e um prazer, vira exercício de paciência e, muitas vezes, explosão social.

A evasão escolar e a não-alfabetização das crianças e adolescentes dos sete aos dezessete anos é alarmante. A visibilidade desse caos, todos vemos nas ruas, nas nefastas “cracolândias”, que exibem a pobreza física e intelectual de inocentes transformados em monstros; a falência do estado inerte e mergulhado em escândalos e as feridas abertas de uma sociedade amedrontada, mas conivente pela passividade.

Ao receber a notícia, o pai de Tábata disse: “Eu sabia, não é novidade para mim”. Ele teve uma vida simples junto com sua esposa, vendedora de flores. Criaram a filha, que não se imaginava nem na Universidade de São Paulo, mas que conseguiu ir muito mais além do que podia ter imaginado. Os governantes deviam ser mais trabalhadores e realistas como os cobradores de ônibus e a sociedade ser mais compreensiva e terna como as vendedoras de flores.

Ricardo Mezavila

Ricardo Mezavila
Enviado por Ricardo Mezavila em 28/08/2015
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