Desconhecido
O telefone toca. insistentemente. Olho para tela. Desconhecido!
Dessa vez a curiosidade é maior. Atendo. Não falo nada, como já fiz outras vezes. Não ouço nada. Talvez um resquício de rua agitada - criança, cachorro, gente falando, buzina de moto. Talvez uma música ao fundo e uma respiração latente. Mas nada que me permita uma identificação precisa.
Permaneço assim, muda. E no outro lado da linha a mesma coisa. Os pensamentos se agitam. Penso em falar, gritar. Perguntar o porquê dessa travessura, quem sabe uma tortura, por ligar e não falar. Desisto. Imagino quem seja. Depois penso que não. Não valeria a pena, ou valeria? Na verdade o silêncio presente nesse instante abre um grande leque a minha imaginação. E pela falta de certeza a mente flui, cria.
Para que ligar e não falar? Sendo que já se tem o anonimato que a falta do número permite ter. Qual seria essa intenção? Apenas ouvir? Mas ouvir o que? Se nem um som se sobressai na vontade de uma pergunta. O que seria? Alguém querendo uma informação? Alguém a procura de um outro alguém? Alguém querendo, mas com medo de falar? Você não saberá quem é e nunca saberá a intenção. Perguntas, perguntas e mais perguntas e nenhuma resposta. Pois se eu as fizesse elas também não viriam.
Alguns minutos se passam, neste mistério indefinido. Me canso, desligo. Como já fiz antes. Como em outras que vejo tocar ate se cansar. E em outras que atendia, falava e a resposta não vinha. De algum modo houve constância, sem rotina nos horários. Hoje não mais.
Hoje me peguei surpresa, olhando para tela e ouvindo o chamar de um desconhecido.