NO PAÍS DA INTOLEROCRACIA

ESTADO DE NERVADA, NEVRALGILANDIA, LOGO DE MANHÃ.

Um garoto calmamente procurava por uma pessoa para lhe dar um recado que alguém, bem deselegantemente e como se fosse uma obrigação do menino, lhe incumbira de passar.

– Oi, Ené, bom dia, você viu o Sem Noção?

– Bom dia por que? Vi ninguém não!

– Precisa ficar nervoso?– Revidou o jovem.

– É, né, não sou um fora da lei que nem você, que age como se nessa cidade fosse certo ser educado!

O menino seguiu em frente e viu outra pessoa vindo em sua direção. Era o Seu Porra.

– Seu Porra, o senhor viu o Sem Noção? – A educação do menino deixou o Seu Porra mais irritado ainda.

– Vi ninguém não, porra! Faz pergunta que não sei responder não!

Prosseguiu o garoto e encontrou mais gente vindo em sua contramão.

– Sra. Meufilho, a senhora viu o Sem Noção?

– Eu??? Vi ninguém não, meu filho, tenho mais o que fazer! Não sou como você que fica querendo saber de vagabundo!

Sem sucesso com os nervosos habitantes de Nevralgilandia que encontrava pelo caminho, enfim, o acaso decidiu ajudar o pirralho.

– Sem Noção, aonde você estava?

– Te interessa não, ô pirralho! Não tenho que te dar satisfação de nada não!

O garoto, então, entrou na faixa de vibração que é própria de Nevralgilandia e soltou os cachorros para cima do Sem Noção.

– Eu tinha uma informação importante pra te dar, seu filho da puta, fica sem ela então!

Como se combate fogo com mais fogo, o ataque de nervos do garoto fez com que Sem Noção despertasse em si a curiosidade e se dirigisse bem calminho para o menino, mas sem deixar totalmente a guarda baixar, por falta do dispositivo da humildade, que carecem todos naquele país atrasado devido à impaciência que a mídia faz brotar e conserva na psique da população. E falou deixando transparecer a típica bajulação que caracteriza quem quer se aproveitar do outro sem ter que pedir desculpas, fazendo o outro pensar que é quem recebe um favor.

– Fala, filhote, o papai aqui quer te ouvir!

Na mente do menino a abordagem foi processada com sucesso e ele não permitiu ser enganado. Um sentimento de forra lhe acometeu. Em Nevralgilandia não tem lugar as hipócritas repressões de instinto que as religiões pregam. É olho por olho e dente por dente. O garoto não perdoou e não cedeu à bajulação do perverso Sem Noção.

– Nada não,Sem Noção! Era importantíssimo pra você e não pra mim. Seu ataque me fez esquecer.

Restou, assim, ao Sem Noção rever seus conceitos. Aquela população estava sendo tomada pelo ódio e pela ignorância que políticos plantam e contratam a mídia para propagar. O que faz bem – povo configurado de tal jeito – para que as duas instituições desnecessárias para a sociedade forme hegemonia sobre ele e garanta o caminho para imperialistas e escravocratas atuarem sobre todos. Para não se tornar um derrotado era importante os indivíduos não se exporem às notícias, às telenovelas, às músicas populares, ao futebol, à moda, ao consumismo, à toda cultura de massa que usa o ódio para controlar o povo. Só assim voltariam a se entender os nevralgilenses, a progredir e conseguir viver em paz.

Veja na prática e na íntegra esse estudo no livro "Os meninos da Rua Albatroz", de A.A.Vítor. À venda em http://www.aavitorautor.com.br . O livro tenta explicar como o brasileiro e o Brasil se transformaram no que são.