Uma Brasileira
 
Esta semana, quando andava pelo centro da cidade, chamou-me a atenção uma senhora, que caminhava de forma desnorteada. Imediatamente me ocorreu que ela poderia ser apenas um dos muitos desesperançados que transitavam a ermo pelas ruas brasileiras. Sua fisionomia aparentava uma mulher na faixa etária de uns sessenta anos. Deduzi que sua face desiludida poderia ser consequência da crise econômica, ética e política que estamos vivenciando. Que a respectiva crise já repercutia no bolso dos mais socialmente desfavorecidos. Pensei, também, que talvez tenha se arrastado de sua casa em busca de algum emprego para melhorar a sua renda, tão pesados eram os seus passos. E que eram pessoas, assim, que mais sofriam com os desmandos e locupletações dos nossos políticos.
A angústia ingerida no tal encontro, com esta triste transeunte, insistia em me acompanhar na jornada pelo centro da cidade. Tanto, que já revolvia meus pensamentos. Então, comecei instantaneamente a indagar sobre os princípios éticos que regiam as instituições públicas brasileiras, sobretudo o Congresso Nacional. Atordoada, minha mente voltou-se para a denúncia do MPF aos primeiros políticos envolvidos na Lava-Jato. Como seria possível a ligação do Presidente da Câmara dos Deputados com o Cerveró nos contratos de Sondas da Petrobrás? Esta questão, como a malfada senhora, se arrastou ao meu lado.
O raciocínio me trouxe de volta algumas lembranças: sabemos que o Cerveró foi apenas transferido da Diretoria Internacional da Petrobrás para a BR Distribuidora, que depois foi demitido por causa de cláusulas no contrato de Passadina. No seu lugar, na Diretoria Internacional da Petrobrás, foi colocado o Zelada, porém, ambos estão presos pela operação Lava-Jato. Então, perguntas não quiseram mais calar: “De onde emanou o poder para o Cerveró e o Presidente da Câmara?” “Por que a relação do Presidente da Câmara e o Cerveró?”
Entretanto, logo percebi que as questões não poderiam ser respondidas, mas que poderíamos deduzir as respectivas respostas. Que tínhamos o direito de esperar das instituições públicas responsáveis pela operação Lava-Jato, explicações, respostas a essas questões.
Esta esperança é daquela senhora, de uma brasileira desgostosa, como tantos na nossa sociedade, que já foram às ruas para protestar por tres vezes neste ano. Que após o seu voto, o sufrágio democrático, espera por soluções para o bem-estar social. Uma brasileira que não compreende por que o crescimento do nosso PIB nos últimos 13 anos do governo do PT, elevou-se, tão drasticamente, com ajuda de recursos do BNDES, para a casa de mais de três trilhões de reais, e tal aumento, não repercutiu no bolso do brasileiro ou nas políticas públicas. Uma brasileira que clama por saber para onde foi essa riqueza.
Maria Amélia Thomaz
Enviado por Maria Amélia Thomaz em 26/08/2015
Reeditado em 26/08/2015
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