CRÔNICA A MEMÓRIA DE LUIS AGOSTINHO
Lá pelos idos de 1974, conheci o meu tio Luiz Agostinho de Santiago. Sempre quando ai à Quixeré procurava a sua casa para me hospedar. Ali a gente conversava bastante sobre: família, sobre politica e sobre arte brasileira. O meu tio era um autêntico conversador de memória formidável como ninguém. Foi através dele que tomei conhecimento da minha estirpe materna e de onde veio. Ele sempre me falou de onde era a família Oliveira e como tinha vindo para Quixeré; a antiga vila do Juazeiro. Foi também através deste meu tio que tive conhecimento do maior poeta de Quixeré: José Cazuza de Brito. O meu avô Agostinho Candeia, o pai deste meu tio Luiz Agostinho, não gostava da amizade deste seu filho, com o poeta porque este meu tio queria cantar repente também. Tio Luiz tocava: violão, violino, e outros instrumentos, no entanto nunca viveu da musica. Ele era um verdadeiro carpinteiro muito procurado por todos da vizinhança. Casou-se na família Alexandre ai mesmo em Quixeré. Teve uma prole de 8 filhos: 5 homens e 3 mulheres e criou 2 filhos adotivos. A Tia Fransquinha era a sua esposa muito amiga de todos que iam ao seu lar modesto. Dos irmãos de minha mãe era o que eu queria muito bem e tinha muita afinidade com ele. Em agosto deste ano estive lhe fazendo uma visita e fiquei um tanto quanto admirado com a lucidez dos seus 95 anos de idade. Conversei 1 hora francamente com ele e senti que ele ainda tinha uma lembrança bastante boa. Ao sair de sua casa ele apertou na minha mão pelo ultima vez. Faz dois meses que esse tio, que esse amigo quixereense fez a sua viagem para o outro mundo. Partiu deixando saudades aos seus filhos, aos seus conterrâneos e a mim também. Quixeré hoje para mim perdeu a graça sem esse meu tio, sem esse ancião amigo de todos os quixereenses. Pouco irei a Quixeré para não lamentar o passado e não recordar o perfil deste meu tio materno, deste único remanescente da prole de Maria Celi Felícia de Oliveira, a minha avó. Tenho em Quixeré muitos primos, porem nenhum me contará tanta historia bonita, como este tio que pereceu recentemente aos 95 anos de idade. Era ele mais novo um ano do que Donatila de Santiago Lima, a minha mãe. Deixo aqui escrito com saudade este depoimento com relação a este membro da minha família materna que sempre me deu muita atenção como nenhum outro. O meu avô não queria que este seu filho cantasse repente como um Cazuza de Brito e tantos outros repentistas da viola. Quando este meu tio tinha 15 anos, lia bastante cordéis para cantá-los a noite em debulha de feijão, pela vizinhança. Talvez por não ter uma forte vocação ele não encetou a arte da cantoria como este seu sobrinho que viveu do repente 30 anos. Toda vez que eu ia a Quixeré o nosso bate papo era grande sobre arte, sobre politica, religião, e as falcatruas do dinheiro público. Ele era um autodidata e um tremendo leitor de obras excelentes. Quem saberá um dia o seu nome não venha determinar uma rua qualquer aí na sua terra natal. Nesta minha crônica prestei a minha condolência a este tio e grande quixereense que soube amar sua terra natal, sua gente, e seus amigos também. Não foi um grande artista porque mesmo não quis, porem ele tinha dom para música e para todo tipo de arte.
Antônio Agostinho