Bala Jucira

Mais um dia monótono, era o que eu pensava. Acordo pela manhã e, como já de costume, vejo uma neblina infernal que dura por volta de 10 segundos, tempo necessário para eu achar os meus óculos. Depois de uma batalha exaustiva, venço a preguiça, levanto e vou em direção ao banheiro. Meu rosto, desfigurado, que mais parece uma das obras de Picasso, mostra-me através do reflexo do espelho o quanto a vida é dura. Escovo os meus dentes e, como de praxe, vou para o terraço, onde fico à espera do sol. Já no terraço, mais precisamente no parapeito, avisto ao longe um carro se aproximando, o que seria normal. O estranho é que ele parou ao lado da minha casa.

O carro era tipicamente brasileiro, popular, 1.0 e duas portas. Mais tinha um algo a mais. Ele trajava uma cor negra assim como os seus vidros e lanternas.

Um homem salta do carro. Na sua mão uma espécie de bastão. Olhando para os lados, como se estivesse cumprindo ordens e que ninguém pudesse saber que ele esteve no local. O homem batia palmas incessantemente. Isso acontecia por volta das 7:00 da manhã. Uma mulher atende e o homem, mais que depressa, saca o bastão e o aponta para o céu. “Pronto, ele é um homem bomba e vai matar a senhora” penso. Atiro-me ao chão como forma de me proteger. Não demora muito, fogos começam a explodir, os cachorros latem e uma sirene típica do holocausto e muito parecida com a ouvidas nos atentados do metrô de Londres começa a soar. Eu, tremendo mais que um pinscher após um banho, começo a rezar pela minha alma. Começa uma contagem regressiva cinco! Quatro! Três! Dois! Um! “Pronto. Morri. Já posso escutar os som das minhas botas batendo”. Até que então ouço uma gravação dizendo: Jucira! Jucira! Esta mensagem é de seus filhos, Matheus, Ricardo e Washington! No fundo, uma música do Milton Nascimento servia de base para a mensagem. A D. Jucira, muito emocionada, chorava e abraçava seus filhos. E eu, envergonhado, percebo que a minha bala perdida tinha se transformado numa bala Jucira.

Luiz Carlos da Rocha Junior
Enviado por Luiz Carlos da Rocha Junior em 21/06/2007
Reeditado em 14/03/2011
Código do texto: T535899