O reverso do amor

Faziam dias que as manhãs não eram tão longas. Faziam dias que a espera não me parecia tão impossível de alcançar. Faziam dias que não nos víamos e dias que não tentava até ele chegar. É que faziam dias que eu havia me convencido de que não podia e não iria mais me humilhar. Mesmo tendo algumas honestas dúvidas do que seria de fato, nesse caso, humilhação. Embebedei-me do meu próprio orgulho e resolvi não mais correr atrás de quem não me merecia. E ele, conforme me diziam, não estava a me merecer. Faziam dias que eu não era tão triste assim...

Interroguei, após a enésima vez que encarava o relógio, se talvez as pilhas não estivessem fracas. Fraca era eu, pensei, que não era nem capaz de ser feliz sozinha. Dei de ombros e verifiquei as horas no celular, só para ter certeza. Tão exatas quanto sempre; eu é que andava com pressa e com tédio de viver. Como pode? Pode! É meio estranho mais pode. É meio que um desanimo interno, pesado, eterno e fatal, que desesperadamente anseia por que o tempo passe depressa para te tirar logo dali, daquele limbo de sofrimento e de nada. De insatisfação. De morte em vida, quando não se têm o que se quer; quando se sufocam os desejos mais profundos e calorosos, mais sinceros, mais necessários de se satisfazer.

De que vale viver assim, renegando o que se sente e sendo obrigado a continuar a sentir? Não sei... sinceramente não sei! Acho que não vale de nada. Acho mesmo que não tem valor, mas me disseram que tenho que ter orgulho próprio e tenho tido. Orgulho próprio, que é bem diferente e bem oposto a amor próprio, embora digam que não. Pois penso que se eu me amasse mesmo eu me daria a satisfação de ter o que desejo. Mas dizem-me e repetem que não. Dizem que o desejo não vale o preço que se paga por tê-lo satisfeito. Que tenho me humilhado. Dizem que amar é valorizar-se. Dizem que devo me dar valor. E tenho me dado. Tenho tentado, mas não tenho visto vantagem, confesso. Mas se isso é ter amor próprio, pois bem, tenho o alimentado, com doses diárias e volumosas. Mas mesmo assim continuo triste e não compreendo o que é que tenho feito errado.

Será que não tenho me amado o suficiente? Ou será que não tenho me dado todo amor que mereço? E que é só dele... que só ele pode me dar...

MAMagni
Enviado por MAMagni em 25/08/2015
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