BELEZA DO MAL
Prof. Antônio de Oliveira
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Charles Baudelaire escreveu uma obra poética intitulada “Flores do Mal” (título original Les Fleurs du Mal, de 1857). Livro e autor foram execrados, na época, por ofensa aos bons costumes. Em Baudelaire se pode apreender o conceito de beleza do mal que, sem dúvida, em determinadas situações tem grande força atrativa. Uma espécie de visgo de sereias, como na epopeia de Ulisses, que resiste ao seu canto se fazendo amarrar ao mastro. Já nossos primeiros pais, de acordo com o Gênesis, não resistiram à tentação. Na verdade, espaçoso é o caminho que leva ao mal. E isso tem sido reproduzido artística e literariamente. Desde a antiga tragédia grega ao quadro Guernica, de Pablo Picasso, retratando a guerra civil espanhola. A obra “Os miseráveis”, de Victor Hugo, é clássica, tema de lindos musicais, óperas e filmes. Vista de longe, uma favela pode parecer um gracioso presépio. Morar lá, em condições precárias, é que são elas. Aí é que está a dificuldade, o problema, o desafio social.
A quem ama o feio bonito lhe parece. A quem opta pelo mal, esse sempre lhe apetece como bem. Ninguém quer o mal pelo mal. E nem sempre avaliamos as consequências.
Para Baudelaire o ser humano se divide entre uma tendência para Deus e outra para Satã. A de Satã, de certa forma, pode ser apreendida esteticamente no submundo dos excluídos da sociedade. Donde se pode também tornar patente uma poesia latente.
Baudelaire, aqui, é apenas uma referência. Um par de muletas para tratar do assunto. Não se pretende esmerilar aqui seu conceito de beleza do mal. Aliás, são conceitos bíblicos, evangélicos: os filhos das trevas são mais espertos, em seus negócios, que os filhos da luz. Pior quando esses estão divididos contra si mesmos. Sabedores da máxima “dividir para reinar”, políticos astutos deitam e rolam. Além disso, é recado também do Evangelho: ninguém acende um candeeiro para deixá-lo escondido, mas para alumiar a todos que estão em volta.