A INTERNET E O SILÊNCIO.
Precisamos de silêncio. Dar uma chance a nós mesmos.
Estou em uma loja, ao lado diz um cidadão: “mais uma senha?”. Comprava um aparelho e tinha que memorizar nova senha. Disse: “estou cheio de senhas, no trabalho e em todas as necessidades de comunicação e operação de aparelhos, é a tal da computação.”
Somos um número? Somos senhas? Praticamente sim, até no exterior já te esperam com um número para abrir todas as portas. Vai que você não sabe como operar isso, coitado, até uma checagem de embarque em aeroporto complica se não feita com antecedência. Fica sujeito a um “overbook”.
Estranho, faz pouco tempo vivia-se sem nada disso.Era melhor. Preço do progresso. Seria isso o progresso, a correria, a perda da paz?
Leio no jornal O Globo a atriz Débora Falabella que diz gostar mesmo é de ficar quieta em casa com o marido e a filha. Há coisa melhor, a família?
“Ficar quieta”, isso é um tesouro pouco conhecido, sem ansiedade, sem números, com o silêncio ou a alegria dos ruídos familiares. Acresce que gosta de ir para o sítio onde não tem sinal de nada. Não são só as celebridades que perdem essa calma.
Ela afirma que “essa coisa de internet, de todos emitirem opinião e vigiarem a vida dos outros, é uma das coisas mais irritantes nos dias de hoje”.
É isso, as pessoas deixaram de vigiarem a si mesmas, gostam da vida dos outros, que é dos outros. Criam um torvelinho, um maremoto de achismos e inconformismos. Um caldo cultural azedo.
Dar opinião é como disse Umberto Eco, todos podem dar, desde um premio Nobel aos imbecis, pois a internet propiciou a todos falarem via antena o que quiserem. Há quem leia, e muitos leem, com e pelo mesmo nível de cerebração, qualificação e criatividade, e assim trocam, também no mesmo nível, opinião. E vão levando. Faz parte do “avanço”. Se aproveita o que é aproveitável, quem pode e quer aproveitar....essa é a internet. A desinformação e a infantilidade em tudo grassa e é uma graça, melhor, muito engraçado. Voltaire afirmava que 2/3 da população vai levando, sem pensar, 1/3 pensa.
Fora o sentido laboratorial, é distraído e lamentável. Mas ela, a internet, assedia e se comporta mal em vários setores, para todos, mas a um toque, para quem sabe pesquisar por verbete próprio, pode se chegar a algo que preste como informação. Não é rotineiro. Há muita tolice.
Reserve-se a internet para o que presta, como tudo na vida tem os dois lados, faça-se a seletividade impositiva, mas preserve o seu silêncio em boas horas do dia. Vai encontrar além de você mesmo um mundo colorido e cheio de novas esperanças distantes das distâncias impostas pelos números e pela humanidade pouco humana.