As ruas por onde eu moro.
 
Toda manhã, todas as manhãs...
Não tem feriado, dia santo... nada.
É sempre uma orquestra de bem-te-vis e periquitos numa palmeira em frente à Escola de Dactilografia Real.
Na porta, em pé, junto com o azul dos primeiros raios do dia, está lá dona Laura com seus cabelos azuis, vestido estampado com flores, baton contornando novos lábios e unhas pintadas só com brilho. Perfume Magriff, francês, que saudade, ainda sinto o aroma no ar.
Essa é a dona Laura Malagueña. A professora de datilografia.
Hoje ela e a escola estão sós. Ninguém mais faz curso pra escrever à máquina. Nem máquina tem mais. O teclado do computador engana a todos.
Ai de quem fizesse três erros em cem digitações de asdfg hjklç, ela ficava DONA LAURA, forte e grandona. Tínhamos que repetir tudo.
Assim é a minha vida hoje meu amor:
Eu consigo digitar eu te amo no escuro,
Consigo digitar eu te amo de olhos fechados,
Consigo ficar pensando em você acordado até os passarinhos cantarem pela manhã.
Eu vou vivendo como a Dona Laura.
Ela, esperando alunos que não virão mais
E eu...esperando você...
Pois não te esqueço jamais.
 
 
 
 
 
 
 
 
Augusto Servano Rodrigues
Enviado por Augusto Servano Rodrigues em 21/06/2007
Reeditado em 02/10/2007
Código do texto: T535746
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