A LAMPARINA

Há muito tempo, quando nasci em uma fazenda de café na qual meu pai era administrador e meeiro , não havia energia elétrica. Então para que pudéssemos ter a casa iluminada, era usada a Lamparina (De acordo com a definição do Grande Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, lamparina é uma “pequena lâmpada que fornece luz de pouca intensidade, composta de um reservatório para líquido combustível (azeite, querosene etc.) no qual se mergulha um pavio que traspassa uma pequena rodela de madeira e se acende na outra extremidade”).

Todo inicio de mês, quando meu pai ia à cidade comprar os alimentos para o consumo do mês, ele sempre comprava querosene e alguns pacotes de vela, pois não queria que ficássemos na escuridão. Nas noites de lua cheia economizávamos um pouco a querosene: ficávamos na varando contando histórias de assombração até o momento em que vencidos pelo sono decidíamos entrar em casa momento esse que minha mãe acendia a lamparina.

No outro dia, após termos passado a noite sob a claridade da lamparina, amanhecíamos com uma “fuligem” dentro das narinas, e percebíamos que isso só ocorria quando ficávamos próximas da luz fornecida pelo querosene.

Eu já tinha mais de 06 anos quando meu pai comprou um lampião a gás. Nossa... Foi uma verdadeira festa. A claridade era tanta que parecia que tínhamos luz elétrica. Sim! Já havia luz elétrica, em minha casa é que ainda não havia, pois morávamos em um local onde os postes que levavam a energia ainda não tinham chegado.

Aos sete anos nos mudamos para a cidade para que eu pudesse ir à escola, mas nem mesmo nessa época pudemos mudar para uma casa com eletricidade: mudamos para uma casa num bairro afastado. Só aos quinze anos pude ter um chuveiro com água quente, televisão, geladeira...

Ontem fui ao supermercado próximo de casa e estava tudo apagado, sem eletricidade, os funcionários usando a antiga máquina calculadora e digitando os preços de tudo, no açougue não se podia comprar nada, não dava para pesar nada(a balança também era digital).Estavam fazendo tudo manualmente, pois a linha de uma pipa havia cortado o fornecimento de energia elétrica.

Olhei o “caos” que se instalara naquele supermercado e pensei:

-“Como vivi quinze anos sem o uso da eletricidade???”