PAPO COM AS ESTRELAS

Estava jururu, só havia notícia ruim na tevê, a novela não prestava, o papo em casa era só de reclamação e estava com um pouco de azia, fora sem dúvida a comida requentada. Então decidiu sair, fazer uma caminhada. Mas já na rua, perguntou a si próprio: - Para onde vou? Era quase dez da noite, na rua só havia um cachorro vira-lata, um gato vadio e algumas pessoas voltando para casa. Nem o guarda-noturno estava na rua. Pensou de si para consigo mesmo: - Era melhor ter ficado em casa, ficaria fazendo palavras cruzadas, até o sonho chegar e, quem sabe, a esposa estaria menos chateada com as tarefas domésticas e... Mas não, lembrou que ela estava de bobs e quando botava os danados era sinal que a dormida seria bunda virada para bunda. Ela só despertava para reclamar dos seus roncos. - Eita vida tediosa, pensou.

Sentou num banquinho da praça, notou que a pracinha estava muito deteriorada, talvez porque cuidar de praça não rendesse votos. Acendeu um cigarro, sabia que era veneno, sua tosse estava aumentando, o médico já o advertira para parar, mas estava adiando a decisão. Deu uma tragada boa, adorava o Hollywood, mas ão esquecia o Continental sem filtro da juventude, fumavva até segundo tempo dos amigos. E por falar nesses, lembrou-se que preisava ir à missa de sétimo dia de um deles. Os amigos estavam diminuindo. - C'est lá vie, não nascemos para ser sementes, estamos aqui emprestados. Entristeceu, quando pensava nisso ficava triste. - Que babaquice ficar sozinho numa praça fumando e olhando para um cachorro vira-lata e um gato vadio?!!!

Estava de cabeça baixa ensimesmqado quando, de repente, olhou para o céu e viu um resto de lua e as estrelas brilhando, brilhando, brilhando, lindas... Talvez porque estivesse triste, de repente ficou alegre por estar contemplando as estrelas. Fazia empo que não fazia isso, o noticiário, a novela, as palavras cruzadas e as discussões em casa não deixavam, ele marejou os olhos, imaginando que as esrelas eram àquela hora suuas interlocutoras, era como se estivesse batendo papo com elas, e qaí lembrou-se do poema de Olavo Bilac que costumava declamar quando menino na escola e que tinha um verso quer dizia: "Ora (direis) ouvir erstrelas! Certo/ Perdeste o senso". Riu precisava voltar outras vezes à noite para sentar no banquinho da praça e bater papo com as estrelas. Levantou-se e voltou para casa, a azia ahavia passado, agora ia dormir tranquilo o bunda virada para bunda. Vida que segue. E priu.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 23/08/2015
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