Assim...ou nem tanto 5
O silêncio
Há quem, impropriamente, o confunda com o nada. Nem sons, nem vozes, nem mensagens. O silêncio é um muro, uma pausa, a densa força de um lugar onde tudo acontece sem que o corpo saiba e só o espírito sinta. É resposta, veneno, indiferença. Necessidade para se ordenarem emoções, sentimentos e razões, o silêncio abriga, tolera ou agride. Muitas vezes se veste com a pele que queremos para ser e sonhar, para crescer e inventar, para recomeçar. Fisicamente, só em raros lugares da terra se percebe potente. Achei-o no deserto do Namibe e, ao tempo, trouxe-me uma paz estrutural na qual a ausência de ruídos atraía as lembranças a uma serenidade plena. A guerra parava ali e a vida, amolecida, adormecia. O silêncio traz a inquietação ou a harmonia. E vejo-o negro como uma noite pesada, ou branco como uma potencialidade de tudo, um campo de palavras escritas sem voz, a perfeição que matando os sons, limpa a terra. É um túnel de vazio que atravesso para ir do caos à ordem, para chegar sereno ao novo dia como um limbo que nos impede de sofrer até que a luz regresse e todos os sinais se percebam docemente familiares. Muitas vezes me escondo no silêncio e não te ouço. Posso ver a tua boca modelar ideias mas dou ordens ao cérebro para te não ler. Se me amas, volta amanhã.