Eu te amo, mas é segredo
Quem nunca sofreu por uma paixão platônica? Creio que se é uma situação pela qual você ainda não passou, tem grandes chances de enfrentá-la a qualquer momento.
Ela chegará quando você menos esperar, sem aviso prévio de hora ou lugar, sem chance para se preparar. Você poderá estar sentada no parque lendo um livro e ao erguer os olhos para ter uma pequena pausa na leitura, verá alguém passar na sua frente. Alguém até mesmo conhecido, mas em quem você nunca havia prestado atenção. Até agora. Você sente que algo diferente aconteceu após observá-lo mais atentamente. Algo que não tem certeza se será benéfico, mas que sem dúvidas está ali.
E foi assim que aconteceu comigo. Com um estalo, do nada me apaixonei. Sim, assim de repente, por alguém que eu nem conhecia. Em questão de segundos, passei a ver a vida de outra forma. O que era preto ganhou cor. O feio se tornou belo. Tudo se transformou.
A partir daí comecei a observá-lo. Cada movimento, cada gesto, o modo de andar, tudo nele me causava reações estranhas, era como se cada célula do meu corpo reagisse de um modo diferente. Descobri sensações até então desconhecidas. Finalmente consegui entender a expressão de ter as benditas borboletas no estômago, de sorrir com o olhar focado em um ponto vago, de ter o coração acelerado apenas por ouvir um nome, de arrepiar-se ao deparar-me com a pessoa amada na rua, o brilho dos olhos ao mirar meu reflexo no espelho. Um turbilhão de sensações estranhas se alojaram dentro de mim.
Acabei por construir um castelo frágil, erguido com fantasias e cenários românticos. No entanto, eu tinha medo de me aproximar, medo de descobrir que ele não era tudo aquilo que eu imaginei e assim, acabar por ter um coração partido. Então, fiquei na minha, alimentando essa paixão em segredo, com a esperança de que por um milagre chegasse o dia em que ele viesse até a mim e declararia seu amor.
Só que esse dia não chegou. Pelo contrário, em outro estalo, as coisas tomaram um novo rumo. O que tinha cor ficou preto. O que era belo se tornou feio. Tudo se transformou novamente, dessa vez para a pior. Em um momento eu estava ali, alimentando minha paixão e em outro tive todos os meus desejos destruídos.
Ver ele com outra pessoa, de mãos dadas, o amor estampado em seu olhar, tudo o que eu sempre desejei secretamente, foi como um tapa em minha cara que me tirou de meu estado entorpecido, trazendo-me de volta ao mundo real. Como se uma brisa forte tivesse chegado e arrancado minhas roupas, me senti nua, despida de todas as fantasias. Meu castelo desmoronou.
Variedades de emoções despertaram em meu interior. Descrença, raiva, frustração, tristeza, negação… Lágrimas se formaram em meus olhos, mas não as deixei cair. De certa forma, não tinha o direito de chorar. Ele nunca me pertenceu, nem fazia ideia dos meus sentimentos, como poderia chorar se não fiz nada para que a situação tomasse um rumo diferente? Colhi os frutos da minha própria covardia. Bebi uma dose de ilusão e despertei em uma ressaca de amor.
Porém, não entrei em um estado repleto de lamúrias. Sim, sofri demais, afinal quem não sofre? Não tem como esquecer alguém de um dia para outro, é um processo que requer muita paciência. Ainda me bate certa tristeza ao lembrar-me do seu sorriso, mas a vida é assim mesmo em um dia você sorri, no outro você chora. Não tem o que fazer a respeito, basta se conformar e seguir em frente. Perdi esse amor, mas decidi não me perder. Pelo contrário, consegui me encontrar em meio ao caos que eu mesma causei. Além do mais, é só lembrar que passa. Tudo passa. Sempre passa. Basta esperar que passa.
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