A pátria de Vassoura
Nunca mais vi Vassoura a cavalo, com broches no casaco; empunhando, num cabo de vassoura, a bandeira nacional; trotando no calçamento, respondendo a quem a chamava: “Vassoura é a mãe!” O cavalo lhe dava altura, diferenciando-a dos transeuntes a pé. O cavalo é assim, distingue o cavalheiro, como, na nossa infância, “Jerônimo, Herói do Sertão”, com belo trote feito pelos dedos do radialista. Em 7 de Setembro, lá estava Vassoura, desfilando, patriótica, olhada de soslaio pelas autoridades, ancha do seu pomposo nome, Maria Isabel Bandeira de Melo, que ela própria corrigia: "De melo, não, Bandeira Brasileira". Saiu de Gurinhém para cavalgar de Santa Rita a João Pessoa no seu cavalo, a que tinha uma afeição nietzschiana; até tentou com ele entrar no Palácio para falar com o Governador Agripino.
Em outras cidades, semelhantes personagens: Papa-rabo do Pilar, de José Lins do Rego; Maria da Garrafa, de Itabaiana, com molambo e frango no ombro. Em Guarabira, Chico do Baita, sapateiro sabendo além do sapato; o “cientista político” Pai Herói; Salete Cobra, sempre à espera de um enterro. Zequeté de Catolé do Rocha, apitando e passando marcha na sua "carromania"; Galinha Baleada e Ferrugem, de Cajazeiras; Açoite, de Piancó, rodando pedra num cordão para “tirar fino” no queixo, repetindo: “Tomara que bata, tomara que bata"... Em Campina, Engole Trave, soltando palavrões a quem zombasse da sua dificuldade de girar a cabeça. Ou Pedro Cancha, modista, o primeiro macho, sem preconceito, a vestir saia para exibir moda. Inteligentes, como o poeta Caixa D’água, de paletó branco, vendendo livros, ou o tribuno Mocidade, de sábias ironias. Juntos a eles, vivem na memória Pão de Bico, Pegueite, Garapa, dizendo impropérios a quem sugerisse misturar água e açúcar... Ou Davi, o dono dos bancos, o dono do mundo. O povo não tem os bobos da corte, mas esses folclóricos amados pela cidade...