QUARTA PARTE
Eu era sozinha o dia todo na minha infância, mas hoje estou notando este fato e não me fez mal, apenas era assim. Estou refletindo sobre isto  agora que escrevo. E  sou até hoje.  É uma informação gratuita neste momento de reflexão desprevenida. Será que tive uma consequência e nunca notei?
Esta questão está me desviando da narração. Afinal, nada do passado importa mais.
Eu e meu irmão Gabriel ficamos unidos por toda a vida. Éramos felizes em Rio Branco .
 Mas minha mãe tinha um plano, que não sabíamos, de se mudar para Belo Horizonte,onde meu pai ia fazer um ou dois anos de um curso de especialização para virar Inspetor Técnico de Ensino e ganhar mais.De Diretor de um grupo escolar, ele iria supervisionar toda uma rede destas escolas numa região da zona da Mata. E partimos na surpresa para Belo Horizonte.
Lá ficamos pobres. Para mim foi um choque insuperável.  E passei a urinar na cama todas as noites, e vazava através do colchão. Uma vergonha, uma humilhação e todos fingiam não notar. E na escola eu não aprendia nada. Na hora do recreio eu subia para o andar de cima e ficava na sala da Biblioteca lendo a história do Pinóquio, um livro grosso que durou muito tempo me acompanhando. Por isso, até hoje, eu amo este personagem que é o Pinóquio.
Não sei quanto mal isto me fez. Nem os pais falavam e nem os irmãos. É como se não acontecesse. Este fato deve ter feito muito mal a mim, mas não imagino o que possa ser.
Ao final do curso primário, a minha Professora América veio até nossa casa e teve uma conversa com minha mãe. E fez com que minha mãe prometesse ela me ensinar para depois eu fazer o exame pro ginasial. E isso minha mãe me contou. E, realmente, ela começou a me da as lições do colégio.Eu parei de urinar naquele dia pra nunca mais. Adorei que minha mãe me ensinasse.
 
                         QUINTA PARTE
 Outra notícia boa foi o meu pai dizendo que fora escolhido e nomeado para Inspetor Técnico: faltava decidir se ia para Leopoldina ou para Diamantina. Eu logo escolhi Diamantina, que era mais preferência dele. E dizia que Diamantina era cheia de ruas montanhosas, e que as ruas eram forradas de pedras coloridas, uma associação a pedras preciosas. Isso me encantou e virou um sonho ir morar lá, mas nunca foi e eu nunca conheci Diamantina.  Até hoje, isto é um sonho para mim todo colorido e brilhando as pedras. Como quem se consola com algo assim, lindo, e no fundo eu sentia "eu vou ser feliz".
Isto, hoje, eu posso entender como frustração.
De Belo Horizonte fomos para Leopoldina. A era da bicicleta e os cursos ginasial e o científico, como eram chamados naquela época. Uma época muito boa.
Mas minha mãe esperava meu pai se aposentar, para mudar para Petrópolis e fazer uma clínica de crianças excepcionais. E assim foi para nossa surpresa.
Em Petrópolis alugou uma casa linda toda mobiliada. E ali começou a ter alunos. E teve sucesso. Depois desta casa ela passou para outra maior.Eu devia estar com dezoito ou dezenove anos. Estava chegando a hora do vestibular. Eu não sabia que curso fazer. Como no ginásio eu só tirava dez em matemática, achei que tinha a ver com a Engenharia.Não gostei muito de Petrópolis. Nada se comparava a Minas, a minha Minas Gerais.
Eu e minha irmã mais velha dormíamos no quarto melhor da casa. E uma aluna chegada foi posta na minha cama e eu fui para um colchão no chão.Minha indignação foi determinante de fazer o vestibular no Rio. E fiz e tomei pau pois não sabia o que era o número "i". Repeti o ano fazendo  o cursinho de vestibular e ingressei na engenharia. Foram cinco anos de muita alegria, coleguismos e juventude. Um tempo de pouco dinheiro mas muita realização e alegria.
Formada quis logo trabalhar, uma nova alegria e ainda ganhar ordenado! Aluguei um apartamento e tudo foi bom. Eu era jovem ,linda e boa.O tempo era melhor que o atual. Os políticos eram de melhor formação e qualidade
Eu calculava Concreto Armado e desenhava as ferragens.Tinha orgulho de mim e do meu trabalho. Depois me convidaram a trabalhar na Leopoldina com maior salário e ainda iam me ensinar o cálculo de pontes, que foi ótimo.
Aí começa o período da mocidade.