O Barbeiro
Entrou-se na barbearia. Procurava uma em que o profissional, o barbeiro, fosse silencioso, não especulativo. Estava cansado de frequentar aquelas usuais em que já se sabia todo o transcorrer da maldita especulação. Isto mesmo. As barbearias com seus profissionais e os seus frequentadores gostam de especular o alheio: após falar do fulano, do beltrano e do sicrano vem a contação de marras e vantagens. Literalmente jogar conversa fora. Daquilo que é dito, nada se aproveita. Passa-se a vassoura e junta tudo com os pelos e cabelos caídos no chão e joga os assuntos no lixo. Daí um mês volta-se e os mesmos papos, as mesmas fofocas, as mesmas perguntas e as mesmas respostas cortadas como o cabelo de sempre.
A anterior que se tinha ido era de uma “barbeira”. Isto mesmo! Cabeleireira, não! Barbeira! A dona só aceitava cortar barbas, bigodes, e acertar cabelos curtos. Gostou-se do ambiente: poucos fregueses, lugar rigorosamente asseado como requer as feminilidades e nenhum senil amargando aposentadoria com seus assuntos. A dama, uma rainha do silêncio! Bastava meia dúzia de palavras e ela compreendia o corte. Assim foi na primeira e na segunda vez que se foi lá. Na terceira a barbeira desatou os nós de seu lado materno e começou a falar do filho – e eu sou lá mãe para entender de angústias femininas com seus filhos?! Meu lado casmurro e blasé impediu-me de voltar.
Por isto procurou-se este outro estabelecimento para cortes de cabelo. Chegou cedo para evitar a espera. O barbeiro estava ainda limpando o ambiente e percebia que a barbearia abrira as portas instantes antes. Os olhares se encontraram e em sinal a comunicação se fez: sente-se. O homem foi pôr o seu jaleco e a cadeira à frente convidava o freguês para se acomodar.
O olhar avaliou todo o ambiente. O aparador era de madeira à moda antiga, os potes de fazer espuma de alumínio rigorosamente brilhante, os espelhos com seus frisos denotavam o cristal. O pensamento começou a imaginar tempos que se caducaram.
O barbeiro se aproximou, o corte foi rapidamente explicado e a tesoura se pôs a trabalhar.
O silêncio reinaria se não fosse o programa religioso com sua nota de pesar e sofrimento no rádio portátil.
Olhou-se de soslaio. O fundo do ambiente era cercado por prateleiras-estantes onde se misturavam produtos capilares, bíblias e livros religiosos.
Notou-se o barbeiro. Parecia que ele havia vencido as dimensões da antiga revista “O Cruzeiro” e era aquele personagem da charge deste veículo: “O Amigo da Onça”.
Até aí tudo bem!
Até que o profissional Amigo da Onça se preparou para “fazer o pé do cabelo”. Largou a tesoura e dirigiu a mão para uma peça de louça amarelada pelo manuseio e o tempo. Sacou a navalha e derramou álcool. O líquido nem havia evaporado e o instrumento como bisturi já cortava os pelos restantes do pescoço.
O freguês nem tempo teve para reclamar um instrumento com giletes descartáveis. Em dois momentos – vapt vupt - o “pé do cabelo”estava pronto.
Pensou-se: “Eu não acredito que este barbeiro ainda usa esta velha navalha que acaricia o pescoço de todos transportando possíveis vírus e bactérias de um cliente para outro.” Pejorativamente é um barbeiro!
Muda-se os tempos, mas caduquices permanecem para quem não se informa ou reforma.
A ignorância é um assassino de navalha na mão no beco dos tempos da brilhantina.
Cena de Barb – earias em Barbas e Cenas.
Entrou-se na barbearia. Procurava uma em que o profissional, o barbeiro, fosse silencioso, não especulativo. Estava cansado de frequentar aquelas usuais em que já se sabia todo o transcorrer da maldita especulação. Isto mesmo. As barbearias com seus profissionais e os seus frequentadores gostam de especular o alheio: após falar do fulano, do beltrano e do sicrano vem a contação de marras e vantagens. Literalmente jogar conversa fora. Daquilo que é dito, nada se aproveita. Passa-se a vassoura e junta tudo com os pelos e cabelos caídos no chão e joga os assuntos no lixo. Daí um mês volta-se e os mesmos papos, as mesmas fofocas, as mesmas perguntas e as mesmas respostas cortadas como o cabelo de sempre.
A anterior que se tinha ido era de uma “barbeira”. Isto mesmo! Cabeleireira, não! Barbeira! A dona só aceitava cortar barbas, bigodes, e acertar cabelos curtos. Gostou-se do ambiente: poucos fregueses, lugar rigorosamente asseado como requer as feminilidades e nenhum senil amargando aposentadoria com seus assuntos. A dama, uma rainha do silêncio! Bastava meia dúzia de palavras e ela compreendia o corte. Assim foi na primeira e na segunda vez que se foi lá. Na terceira a barbeira desatou os nós de seu lado materno e começou a falar do filho – e eu sou lá mãe para entender de angústias femininas com seus filhos?! Meu lado casmurro e blasé impediu-me de voltar.
Por isto procurou-se este outro estabelecimento para cortes de cabelo. Chegou cedo para evitar a espera. O barbeiro estava ainda limpando o ambiente e percebia que a barbearia abrira as portas instantes antes. Os olhares se encontraram e em sinal a comunicação se fez: sente-se. O homem foi pôr o seu jaleco e a cadeira à frente convidava o freguês para se acomodar.
O olhar avaliou todo o ambiente. O aparador era de madeira à moda antiga, os potes de fazer espuma de alumínio rigorosamente brilhante, os espelhos com seus frisos denotavam o cristal. O pensamento começou a imaginar tempos que se caducaram.
O barbeiro se aproximou, o corte foi rapidamente explicado e a tesoura se pôs a trabalhar.
O silêncio reinaria se não fosse o programa religioso com sua nota de pesar e sofrimento no rádio portátil.
Olhou-se de soslaio. O fundo do ambiente era cercado por prateleiras-estantes onde se misturavam produtos capilares, bíblias e livros religiosos.
Notou-se o barbeiro. Parecia que ele havia vencido as dimensões da antiga revista “O Cruzeiro” e era aquele personagem da charge deste veículo: “O Amigo da Onça”.
Até aí tudo bem!
Até que o profissional Amigo da Onça se preparou para “fazer o pé do cabelo”. Largou a tesoura e dirigiu a mão para uma peça de louça amarelada pelo manuseio e o tempo. Sacou a navalha e derramou álcool. O líquido nem havia evaporado e o instrumento como bisturi já cortava os pelos restantes do pescoço.
O freguês nem tempo teve para reclamar um instrumento com giletes descartáveis. Em dois momentos – vapt vupt - o “pé do cabelo”estava pronto.
Pensou-se: “Eu não acredito que este barbeiro ainda usa esta velha navalha que acaricia o pescoço de todos transportando possíveis vírus e bactérias de um cliente para outro.” Pejorativamente é um barbeiro!
Muda-se os tempos, mas caduquices permanecem para quem não se informa ou reforma.
A ignorância é um assassino de navalha na mão no beco dos tempos da brilhantina.
Cena de Barb – earias em Barbas e Cenas.
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 19/08/2015.
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