ELES EXISTEM

Eles existem, sim. Um deles foi identificado outro dia em Samambaia, no Distrito Federal, em plena luz do dia. Não, não estou falando dos extraterrestres mas, sim, do “homo honestus”, que muitos acham que é uma espécie em extinção no Brasil. No caso, um garoto de 16 anos achou no caminho da escola uma carteira com mil e seiscentos reais e o orçamento de uma oficina mecânica. Não teve dúvida. Com a ajuda da professora, localizou o dono da grana – um pedreiro aposentado – e lha devolveu.

Seu nome? Guardem na memória: Lucas Yuri Bezerra. “O dinheiro não era meu”, explicou. “Mesmo que eu não achasse o dono, eu não conseguiria gastar.” Simples assim. Numa época em que o país está mergulhado numa crise ética sem precedente, o rapazinho imberbe deu um tapa de luva em muita gente grande e em muitos figurões da República, apesar de ter inúmeros “motivos” para cair em tentação. Ganha meio salário mínimo, convive com irmãos menores e mãe desempregada. Muitos colegas o chamaram de burro e outros tantos pensaram a mesma coisa pelo país afora, mas o dinheiro alheio lhe queimava as mãos. A César o que é de César.

Não é um caso isolado. Repito: a espécie não está em extinção, mesmo nestes tempos áridos. Daí, o meu conselho: esqueçam por um momento as manchetes bombásticas, os escândalos estrepitosos e procurem no cantinho dos jornais. Lá estão eles. Quase sempre gente simples. Um exército de benfeitores. Taxistas, lixeiros e frentistas que acham e devolvem. Que resistem ao canto da sereia.

E para reacender a esperança de que nossos netos herdarão um país reconstruído sobre as cinzas da corrupção, vou relembrar alguns episódios recentes: Fernando Salustino, de Natal, achou R$15.000,00 em seu táxi e devolveu. Marco Antônio da Silva, do R. G. do Sul, achou R$600,00 e uma conta de luz no ponto do ônibus, pagou a conta e entregou o troco à dona. Francisco Bazílio Cavalcante, faxineiro do aeroporto de Brasília (este eu cumprimentei pessoalmente), encontrou uma valise com US$10.000,00 e devolveu o pequeno tesouro ao distraído turista que a havia esquecido no banheiro. Mulheres também, claro. Sônia Santos (outra vez Distrito Federal), desempregada, procurou e devolveu a uma idosa os cartões de crédito e respectivas senhas que esta perdera no ônibus. Sônia estava com a faca e o queijo nas mãos, mas preferiu continuar desempregada e honesta.

Pessoal resistente, esse. Merecia um incentivo do poder público, tão pródigo na distribuição de bolsas e benefícios de toda natureza, que alcançam até os dependentes do condenado. Quando nada, casos assim poderiam funcionar como critério de desempate em concurso público ou seleção de emprego. Isso ajudaria na desinfecção da máquina administrativa e no arejamento das relações interpessoais.

Mas a questão é antiga. 400 anos antes de Cristo o filósofo grego Diógenes andava com uma lanterna na mão procurando um homem honesto. Se achou, eu não sei. O que sei é que, nos tempos modernos, o americano Warren Buffett, considerado o maior investidor do mundo, tirou da cartola esta pérola de sabedoria: “A honestidade é um presente muito caro. Não espere isso de pessoas baratas.”

Quem concorda sabe que este é um presente que se planta no berço, a quatro mãos. Se não, mais tarde, a semente não germina e o barato pode sair caro.

Pereirinha
Enviado por Pereirinha em 20/08/2015
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