Impulso musical
Era um dia como outro qualquer naquele supermercado. As vendas iam muito bem por aquele ser o único supermercado da região. A sua construção foi rodeada por palavras duras de maldição por parte dos donos de vendinhas locais, que acertadamente viam naquele templo capitalista a sua ruína. Outra parte da população queria saber porque tanto a TV falava da nova construção.
No dia da estreia do novo local, quase toda a pequena cidade ficou em torno dali. Todos fizeram a compra do mês para as suas casas, algumas famílias pela primeira vez na vida. Os lucros forma exorbitantes. Até que...
Até que o gerente, que perambulava pelo estabelecimento procurando o que fazer, notou um cidadão que simplesmente andava por entre as alas e prateleiras, sem nunca comprar nada. Perguntou para ele o que exatamente ele queria.
Ele não queria nada. Ou melhor, ele não queria comprar nada, mas quis permanecer lá “por causa da música”. Explicou que nunca tinha ouvido nada semelhante em sua casa e, como era nem de longe um cidadão endinheirado, tinha de forçosamente ouvir a música que tocava no supermercado (que, dizia ele, era belíssima).
O gerente estava estupefato. Lá estava uma pessoa que gastava horas no supermercado sem ser um consumidor. Ele era um anti-consumidor. Bem, na realidade, isso não era verdade: ele tomava e consumia tudo que lhe era oferecido de graça, entre copinhos de café e pedaços de linguiça defumada.
Ele então fez uma reunião ás pressas, expôs toda a situação para a sua equipe inteira. Entre elas havia um certo homem com a fama de ser muito metódico em tudo, que expôs a seguinte solução: era só pôr na ponta do lápis quanto estavam perdendo oferecendo petiscos que somente ele comia, para ver se valia a pena sua expulsão a força.
Naquele ponto, uma mulher (ser muito mais racional para essas coisas emocionais) disse que não era para tanto. Bastava, isso sim, desligar a música somente. Sem o impulso inicial da música ele iria embora, certamente.
Por isso é que desligaram a música daquele mercadinho. O fato social nada tem a ver com censura...