Companhia de ninguém

A solidão ainda me procura e persegue e eu ainda penso nela. Companheira de momentos passados. Ainda sinto seu cheiro de nada por aí. Ainda ouço sua voz de som nenhum ecoando em alguns lugares. Ainda vejo vultos de ninguém passando de extremidades em extremidades, portas, corredores, janelas.

Hoje fui ao banheiro, abri a porta da cabine, fechei, parei em frente ao mictório e enquanto fazia o que tinha de ser feito, fechei os olhos e a senti por lá, batendo na porta da cabine, perfumada, chamando meu nome. Então, saí da cabine, lavei as mãos, me olhei no espelho e vi seu reflexo ausente logo do meu lado, parada, de mãos estendidas, esperando que eu correspondesse o gesto e saíssemos juntos e permanecêssemos assim até que sua boa vontade de ir chegasse, se é que chegaria...

Sou um homem de poucas companhias e isso talvez me deixe um tanto vulnerável, exposto. Mas, eu prefiro assim, poucas companhias. Desativei minha rede social e brevemente também vou parar de usar o aplicativo que uso pra me comunicar com os contatos que tenho gravados em meu celular.

Talvez eu seja um sujeito à beira de um colapso, talvez eu seja um projeto de suicida, talvez eu seja um andarilho sem rumo. Talvez a solidão esteja agarrada a mim, mas, sem indícios. Apenas agarrada, silenciosa, quieta e maliciosa.

Hoje andarei sozinho do trabalho até em casa. Não é perto.

Daniel Matos
Enviado por Daniel Matos em 19/08/2015
Código do texto: T5351563
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