MÁRTIRES DA MENTIRA.

Muitos sem nome e sem rosto são mártires da mentira. Estão sepultados de forma imemorial sem reconhecimento do preço pago pelos desgovernos. É um testemunho da história. Morrem por lhes faltar o que a ficção da Carta Política (Constituição) garante e não se realiza, saúde. Morrem pela absoluta falência da segurança pública e das leis penais permissivas de regência. Morrem, também, e primordialmente, pela falta em princípio do ensino fundamental prometido pela Lei Maior, educação, base de tudo, que na sua ausência gera a impossibilidade de escolha consciente e informada.Morrem por falta de lideranças confiáveis para a representação como notório.

A insuficiência de proteína na infância idiotiza o cidadão, resultando em vedação de alcance de escolha esclarecida da representação política, embotando o cérebro de quem até três anos não recebe sustentação satisfatória de proteínas necessárias. São pelo resto da vida os sequelados da disfunção de apreensão.

Acreditaram na cidadania singela, desaparelhada para perceber as mentiras da procissão permanente da mitomania profissional política, independente de origens partidárias. A cidadania veste sem saber a roupa da mentira. Faltando educação para sopesar, falta tudo.

Promessas que mitigam a fome de poucos não bastam, ninguém na sociedade moderna pode passar fome, ter fome, esse é o vestibular mínimo do direito de dignidade de todos.

Retirou-se a alargada capacidade de escolha, que diferencia o marginal do homem de bem. Suprimiu-se a educação, único veículo das grandes passadas do homem no rumo da redenção humana. Na escuridão da deseducação inexiste mínima luz.

Sofreram martírio os mortos por negadas verdades inteiras, mortos pela mentira. Sofreram e morreram sem estarem inscritos nas páginas da história, como mártires. Suas mortalhas foram compradas com os dinheiros dos desvios notórios. Dormem esquecidos seus ossos na sepultura da deslembrança, no sacrário dos heróis sem nome, meros números estatísticos.

Nada pediram os mártires em medalhas ou condecorações, os mortos da mentira, que caminharam inocentes para o patíbulo da execução silentes e mudos, desconhecidas causas ou razões. Sofreram os mortos nas portas dos hospitais e dentro deles, na falta de exames indispensáveis, remédios e socorros, os mortos pela insegurança pública quando no livre trânsito do ir e vir ao trabalho, para produzirem, serem úteis, foram mortos pela inutilidade da representação política. Nunca lutaram pelas grandes causas, lhes eram desconhecidas, não se educaram.

Ser mártir é dar a vida e ser imolado pelo que se acredita como verdade reformadora do mundo no sentido de melhorá-lo. A luta do mártir é prazer e alegria, seu flagelo o incenso que embriaga, sua ideologia o altar do sacrifício que levará sua bandeira a tremular sempre após seu martírio.

Ser mártir da mentira é ser ignorado e ignorar sua alma errante a razão de vir a esse mundo. Herói do silêncio, assim morto pela mentira política, morto pelo engano, morto pelo desserviço sob a bandeira de servir, morto exaurido, nunca provido.

O purismo idealista construído com luta e denodo, fortalecido na crença alimentada pela vontade férrea de trazer para todos o que seja o melhor, passa pela vítima da mentira que não conheceu ao menos um mínimo de verdade, por acreditar na mentira. Sua verdade não podia escolher além da fome, nem negociar o que fossem primeiras necessidades, mas nem elas recebeu, somente o grosseiro alimento de pouquíssimas moedas. Isso faz desse mártir a principal vítima, nunca lembrado, o que faço agora, sempre desconhecido.

Como nos cemitérios da Normandia permanecem, onde a dívida da humanidade desconhece as incontáveis cruzes brancas que fazem filas tanto tristes como belas, tristes por indicarem centenas de jovens mortos pela sanha nazista, belas por simbolizarem a imolação pelas liberdades civis e individuais, as mesmas negadas aos que morrem por falta de remédios, hospitais, educação ao menos fundamental, necessária para repor à condição do martírio ter finitude por causa digna conhecida.

Aos mártires ignorados e desconhecidos nossa reverência e nosso respeito.

Celso Panza
Enviado por Celso Panza em 19/08/2015
Reeditado em 19/08/2015
Código do texto: T5351492
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