Malemolência
O quarto estava escuro. Passava das oito da manhã.
- Como é que é? Vamos ou não vamos?
O sono era maior do que ele. Nesta hora a cabeça derrapa nos
devaneios da preguiça. Virou do lado se fingindo de morto. Acho até que estava morto mesmo.
- Toda vez é a mesma ladainha. Enrola, enrola, enrola. Se a gente marcou pra ir,
é pra ir. Chega de lero-lero. Caramba!
Quanto mais falava, na verdade grasnava sem parar, maior era
a vontade de nunca mais sair de lá.
- Estou no limite da paciência. Tenho horário, as pessoas não têm o dia todo pra gente. Levanta logo daí e toca o bonde. Só mais dois minutos. Nem um segundo mais.
Ele não entendia que tem vezes que o corpo não responde como a gente gostaria. Esta malemolência parece uma massa gosmenta que veio do nada e se
apossou do corpo e da alma não deixando nada de fora. Será que não percebe
que não estou a fim?
- Droga. Assim não dá mais. Simplesmente não dá mais. Parece um moleque inventando coisa pra não ir pra escola. Poxa vida, não dá pra cooperar um pouco? Custa ser legal, levantar na primeira vez que chamo e pronto? Custa evitar este estresse toda manhã? Parece que tem prazer em encher o saco. Vou embora e você que fique aí. Tchau. Dane-se.
E foi embora.
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