Passos necrosados
Me encanto com meus passos.
Não só com os passos floridos, abastados.
Mas por aqueles trêmulos, pálidos, sedentos.
Me encanto com meus passos sarados, vastos,
também aqueles imberbes, ainda não desfrutados,
nem tampouco ungidos.
Me encanto com meus passos descarrilhados,
ainda esperando o curtume,
ainda na fila para receber a bênção.
Me encanto com meus passos alforriados,
mas também com aqueles desfalcados, falidos, surrados.
Me encanto com meus passos de peão. de rei,
também aqueles encardidos, remendados, puídos, tristes.
Me encanto com meus passos sem dono, sem ferrão,
mas também aqueles fugidos, encurralados, sem eira nem beira.
Me encanto com meus passos mundanos, safados, de boteco fedido,
mas também aqueles farsantes, com tapa-olho, com cheiro de nada.
Me encanto com meus passos solenes, aplaudidos, louvados,
mas também aqueles necrosados, mumificados, tardios.
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