Drama de um calzone

Não é uma coisa fácil ser saudável na praça de alimentação de um shopping center. O sujeito anda para cá, anda para lá, até que chega à conclusão de que a coisa mais saudável por ali é um calzone com massa integral. Antes de entrar na fila para pedir, ele vai até o balcão para se certificar de que há calzones desse tipo prontos, porque ele não está nem um pouco a fim de esperar até que resolvam fazer um. Há dois calzones de massa integral: o vegetariano e o de palmito. O sujeito não é vegetariano, mas também não gosta de palmito, então decide: vai o vegetariano mesmo.

E fica esperando na fila para ser atendido, de vez em quando lançando um olhar ao balcão de calzones, porque só há um calzone vegetariano pronto e, na sua cabeça, todas as pessoas em uma praça de alimentação são capazes de pedir um calzone vegetariano, e talvez não haja como atender a todo mundo. Pois bem. Chega a sua vez, ele pede o tal do calzone vegetariano. “Não tem”, respondem. Mas como não tem, se ele acabou de ver, inclusive com um papelzinho na frente escrito “Vegetariano”? Realmente está escrito “Vegetariano” no papelzinho, mas isso foi erro de alguém, porque aquele calzone na verdade é de brócolis. De massa integral mesmo, só tem esses dois: de brócolis e de palmito.

Ele hesita um pouco, brócolis não é exatamente a coisa mais gostosa de se comer, e também não é o tipo de coisa que se imagina que alguém vá comer na praça de alimentação de um shopping center, mas, vá lá, ele realmente não gosta de palmito. O sujeito então pede, em voz baixa, consciente de que faz um pedido inusitado: “Então me vê o de brócolis”. E a mulher do caixa berra para a mulher que serve os calzones: “UM DE BRÓCOLIS!”. Agora a fila inteira olha espantada para o sujeito que, podendo comer um monte de porcaria, decide comer um calzone de brócolis. Ele suporta estoicamente os olhares alheios, pega o seu calzone, senta-se em um lugar bem afastado e dá a primeira mordida. Era de palmito.