encontro não marcado
Havia algum tempo que ele não saía e, neste dia, alguns convites lhe foram feitos. Nenhum deles, no entanto, fazia surgir a vontade de sair de casa. Deixou de ir fazer um bate volta à praia para comemorar um aniversário de um grande amigo, faltou em sua meditação, negou um convite com um desconhecido e recusou o convite para uma balada de um outro amigo que vem tentando chamá-lo a qualquer custo para conhecer esta nova casa.
Decidiu que ia ficar em casa vendo filme e nada mais seria feito no final de semana.
Aproximadamente às 23 horas seu amigo ligara e disse que estava passando por perto e que iria para uma balada. Embora estivesse de pijama, resolveu ir. De alguma maneira a vontade surgiu e algo parecia sinalizar: "saia hoje, talvez algo possa surpreender".
Ele se aprontou rapidamente. Foi ao encontro do amigo e juntos, foram para a tal balada.
Conforme as horas iam passando a certeza de querer ter ficado em casa parecia ter sido a melhor opção. Drink atrás de drinks, um cigarro eventualmente e um monte de músicas desconhecidas por um tímpano descompassado do atual.
"vamos descer um pouco? Quero ouvir algo familiar e sem muita frescura".
Na pista debaixo as vibrações já conhecidas pareciam começar a dançar com ele e as coisas, enfim, pareciam mais certas. Talvez o efeito do álcool já estivesse turvando seus sentidos, isto não importa na verdade, o que valia era a sensação do bem estar. Conseguiu descobrir o nome de uma música que há muito tempo desejava saber e ficou feliz, sim, feliz por uma bobeira que era carregada de certa emoção desconhecida, mas que a música o fazia sentir-se voando.
Não tardou muito e uma troca de olhares tocou o sininho que ansiava em ouvir. Muitos o haviam puxado naquela noite, sem sucesso. Mas aquele moço sem fazer nada, fez mais que qualquer outro poderia fazer.
As mãos queriam tocar-lhe a face. Os lábios experimentarem teu gosto. Leve... "não quero rápido, não quero o tesão consumado por um calor do momento, quero sentir você além do corpo. O corpo poderemos ter em todos os próximos encontros, mas deixe eu sentir sua energia, ver além do que todos aqueles já viram num momento ou outro... Deixe eu conhecer sua alma."
Ele sabia que a melhor maneira de se conhecer a alma de alguém era através do olhar. E não mediu tempo. Olhou... Olhou, olhou e foi se hipnotozando. Toda a cena parecia um quadro de Monet. Esboços aguados e a alma da pintura no olhar daquelas damas vitorianas ou na vitória régia sob alguma ponte. Tocava legião urbana na pele e na alma o movimento verão das quatro estações de Vivaldi.
O tempo se embriagava com o álcool na corrente sanguínea e os minutos foram segundos de um sonho lúcido.
"espero aqui".
Ele esperou e, o que deveria ser cinco minutos, pareciam algumas horas numa fila interminável de espera... A espera em si não se sabia qual. Mas a angústia não o deixou ficar parado. Subiu, foi embora. O cartão havia sido entregue e restava ao menino de olhos amendoados dizer-lhe um oi no dia seguinte.