Mala com rodinhas no aeroporto
Chegamos ao aeroporto, eu e ela, ela e eu. Na fila, fazendo caras e bocas e ao lado daquela mala tão fácil de levar. Ela se comporta como se fosse programada via satélite, vai em frente, livre, leve e solta. A fila andando e a mala mais impaciente do que eu, morrendo de vontade de voar. Faltando apenas duas pessoas serem atendidas. Chegou a nossa vez. Tive que frear a danadinha, pois ao que achei, já queria meter as rodas pelas alças. Ficava toda se exibindo para o funcionário do balcão do check in. Por favor, a mala. Sim. Foi aí o momento mais crucial. Palavra chata essa crucial, só que foi crucial mesmo. E como eu iria passar por aquele espaço estreito por onde ela passou? Cheguei a curvar-me tentando seguir a mala. Estava ela entre as amigas, a esteira rolando e elas se rebolando lentamente. E agora? Que faço? E que farão com a minha mala?! Ela nem tsc, lá se ia com as amigas. De repente, um pouco adiante, uma mala enorme tombou na pista rolante e o trânsito ficou interrompido. Eu continuava com vontade de entrar por ali e pegar a minha mala com rodinhas. Ela não podia me deixar assim, sem mais nem menos. Que sujeitinha ordinária! Veio um ajudante, vestido em um macacão azul e com o nome da companhia de aviação nas costas. Como um velho conhecido daquelas malas, colocou o malão na rota e a viagem na esteira continuou. Vi a minha mala, toda cheia do sentido de liberdade e cidadania sumir por aquele túnel escuro. Fiquei pior. Para onde a estavam levando? Seria um sequestro? Pensei em chamar a polícia. Ouvi o rapaz dizer: pronto, senhora, confirmado e liberado, siga para o portão B. Seu voo partirá dentro de poucos minutos, dentro do horário previsto. A pessoa atrás de mim tinha pressa, não dava para tomar satisfações sobre a minha rebelde mala com rodinhas. No avião, eu sem ela. E ela, estaria com quem? Fazendo o quê? Ah, teríamos uma séria conversa no retorno? E haveria retorno? E se eu a perdesse de vez com todas aquelas coisas e até um segredo ali guardado? Olhei pela janela, uma nuvem era um desenho de uma mala com rodinhas. Quis tirar isto da cabeça olhando o céu, as nuvens. Nada. Veio a comissária depois de algum tempo. Eu distraída, ela esperando a resposta sobre se aceitaria água, outra bebida. Não. A mala no pensamento, isto era algo doentio. Imaginei milhares de coisas acontecendo com aquela mala querida. Quis até colocar a culpa em Dilma, logo eu, uma dilmista. Dela não foi, isto deve ter sido armação do Aécio, mas ele não perde por esperar. Ah, quando eu tiver um pouco mais de tempo venho contar como foi a chegada e se reencontrei a danada da mala.