DOMINGO DE CARA FEIA, VIDAS DE CARAS FEIAS!

Cedo fui até a janela e só pela cara feia logo vi que o domingo estava de mau humor, deu-me um sopro gelado no rosto. Pus a língua para ele fiz uma careta e sorri, mas não adiantou, ele soprou mais forte.

Esperei e espiei pela fresta, lá estava ele parecia um pai impaciente, daqueles dos anos setenta que chegava as duas da madruga em frente ao salão de baile e ficava para lá e para cá ate as 6 horas, quando a festa terminava.

Não teve jeito e lá fui eu dar a minha caminhada e no meio do caminho passar pela feira dominical.

Na volta a sacola com frutas e legumes começou a pesar e diminui a marcha, em frente caminhava uma freguesa com algumas sacolinhas. Logo ela foi alcançada por outra freguesa da feira. Cumprimentaram-se e a que ia logo a frente perguntou para a que alcançara-a se hoje não era o dia de folga dela. Era sim, mas a Janete pediu para sair, respondeu em forma de reclamação e continuou:

- O filho dela de 14 anos foi preso pela polícia. Depois ela ficou sabendo que ele matava as aulas e ia lá para o ponto do Chó, aquele que vende drogas, então a polícia deu uma batida e prendeu todo mundo. Ela foi no juiz e prometeu cuidar dele, então ele ficou somente 15 na FASE. Não tinha como cuidar dele trabalhando e ainda por cima o pai está preso.

Diminui o passo mais ainda, até que elas quebraram à esquerda, eu não queria ouvir aquela conversa de pobre, conversa estressante. Pela primeira vez dei razão em parte ao Secretário da Segurança Pública Wantuir Jacini, quando disse em outras palavras que as crianças entravam no crime porque as mães trabalhavam. Quero remendar o que ele disse, de fato as mães fazem falta e é óbvio que salários de domésticas não permitem que ela paguem maternais, escolas para os pequenos, é óbvio também que as escolas devem ser de turno integral e com pulso forte, tipo as militares, tipo o Pão dos Pobres, é mais óbvio ainda que uma vaga na escola é infinitamente de menor custo que nos reformatórios, aqueles que reformar para o mal.