SAUDADE DA DITADURA

Eu tenho um amigo, um sujeito sério e muito positivo que quando nos encontramos ele sempre me diz que éramos mais felizes no tempo da ditadura. À primeira vista pode parecer um absurdo, algo irracional, uma piada de mau gosto, mas partido desse amigo é algo muito refletido. Ele argumenta que no tem,po da ditadura todos éramos combatentes da liberdade e unidos. Todos contra a ditadura. Vai mais além: foi durante a ditadura que a cultura floresceu, a MPB, o romance, o conto, o teatro, a pintura, a escultura e o escambal. Tdos éramos muito mais puros e desfraldávamos além da bandeira da libereta também a da luta contra a corrupção. E arremata: quais os lídres de verdade hoje? Os lídres que nos empolgam? Os lídres purios? Cadê a esquera? Cadê as publicações de esquerda? Provou: tínhamos o Pasquim o Bondino, Movimento, Opinião... Que temos hoje, apenas a revista Carta Capital que não é nem de esquertda, e a Caros Amigos. Tem mais: ele diz enraivecido que está até proibido de falar sobre ética, moral, corrupção e temas correlatos, que é um homem envergonhado com a nossa esquerda.

Todas as vezes que converso com ele, um cara que resitiu na ditadura, um esquerdista de verdade, fico deprimido. Simplesmente porque termino justicando o injustificávele ele eexplode de raiva,afirmando que essa teoria que os fins justidficam osmeios éimoral. Úm sujeito muito duro e meio grosso, tipo papel de enrolar prego. Ele diz mesmo que érarmos mais felizes no tempo da ditadura. Isola. Estou evitando esse amigo, ele me deixa jururu, pra baixo, chateado, triste, abaixo do volume morto.