Na solidão do sertão

O sol, quando ao meio-dia, causa estranhas vertigens. Vislumbra-se vultos distorcidos embrenhados na caatinga, caminhando entre serrotes de pura pedra, no meio da vegetação seca, árida, de difícil acesso, distritos abandonados, onde mal se vê a presença humana, senão aqui e ali, uma casinha feita de barro, coberta de palha da carnaubeira, distante de praticamente tudo, sem água nem energia elétrica, construídas na solidão do sertão, não se sabe por quem, tendo apenas a imensidão do azul do céu e a caatinga miserável como vizinhança.

Nesses lugares ermos, encontra-se de tudo: pontes sobre rios secos, açudes no chão duro e poeirento, postes plantados no meio do matagal implacável, e o vento em redemunho correndo contra o tempo, construindo colunas de poeira num trabalho extenuante e contínuo, dia após dia.

Nessas condições severas, quem se perder ali, vai observar quando o silêncio invadir a tarde luminosa. Muitas vezes, no meio do nada, vai escutar o quase imperceptível bater de marretas ao longe e de vez em quando o repetir das batidas no meio da mata. Não haverá mais ninguém ali. Mas há a impressão de se ter ouvido alguém cantando uma canção antiga.

Quantos mistérios ocultos na mata poderá haver. Já se ouviu muitas histórias dos vaqueiros que passam por essas estradas desertas. Histórias fantásticas de árvores que escondem botijas, lugares encantados dentro da mata e o medo de um dia os encontrar. Muitos já se perderam na caatinga levados embora pela moça encantada.

À noite as estradas se aquietam. Dormem na sua imensidão, mergulhadas no vazio da noite.

Amanhã é outro vazio.