MEU AMOR DE 22 ANOS ATRÁS
Era setembro, auge de campanha eleitoral. Eu era só uma menina. Ingênua, tola, sem qualquer experiência, mas cheia de ilusões. Bastou ver aquele jovem animando a galera pra votar no candidato dele, que o coração palpitou como se me avisasse que era a hora de viver uma história de amor. Eu era só mais uma no meio da multidão que seguia aquele momento político. Ele nem podia me ver, sequer sabia da minha existência, mas eu já estava entregue, decidida a viver aquele amor, a qualquer custo. Alucinada toda!
Dias depois fui a outro comício, embora do outro candidato, na ilusão de rever aquele menino e, dito e feito: mal cheguei e lá estava ele, meu amor, lindo! Perguntei a um amigo se o conhecia e, para tornar mais curto o caminho até meu príncipe, ele me disse que sim, inclusive me informando seu nome. E para me ajudar ainda mais, acrescentou:
- Se quiser encontrá-lo, basta ir à missa, ele vai todos os domingos! Ele costuma ficar de pé, nos corredores laterais da igreja.
Disse-me ainda que haviam sido coroinhas durante algum tempo e que, se fosse minha vontade, nos apresentaria. Perfeito!
No domingo seguinte fui à missa com uma amiga. Sequer entrei na igreja. Havia muita gente, eu não conseguia ver nada. Então resolvi ficar na vigília enquanto aguardava o momento da bênção final. Encontrei meu amigo, o cupido, e ficamos na expectativa, até que ele sinalizou informando que o rapaz estava vindo. E fomos apresentados.
- Essa é a Celça, lá do Potira!
Ridícula! Foi assim que me senti. Lembro-me que ele ainda comentou alguma coisa do tipo “nossa, você vem do Potira pra assistir missa aqui?”. E foi só isso.
Mas eu seguia na obsessão de conhecê-lo, de dizer a ele o quanto o queria e que, inexplicavelmente, eu estava apaixonada. Ele podia me julgar uma louca, claro, mas eu precisava ficar com ele!
Soube que tinha um parque próximo àquela igreja. E pensei no lugar como outra possibilidade de estar com ele. E fui até lá, acompanhada de um casal de amigos. E vejam que coisa feia eu fiz: vigiei o rapaz, sem falar com ele, e quando foi embora, o segui. Ao chegar num certo portão, foi entrando e tirando a camisa. Pensei no risco de ser a casa da namorada, mas julguei meio improvável, já que entrou se despindo (naquele tempo, 22 anos atrás, ninguém faria isso). E fomos embora.
Continuei investigando. Já sabia que ele era irmão de um grande amigo de uma amiga minha. Louco, não? Mas eu tinha que tentar tudo! Falei com essa amiga e ela me confirmou que aquela casa era realmente a dele. Pensei um pouco no que fazer e decidi: “Vou lá! Claro! Vou dizer a ele tudo o que estou sentindo e resolver logo isso!”.
E fui. Tolinha... inocente... e corajosa! Bati palmas e logo que surgiu alguém, perguntei por ele, como se o conhecesse há anos: “José tá aí?” e o Júnior, seu irmão, respondeu que sim, mandando-me entrar.