O ACIDENTE

Sentada na varanda, me surpreendi com o paque em uma das portas de vidro, que dão acesso ao living. Desviei meus olhos do livro que lia, e rapidamente me levantei, aconcheguei-o em minhas mãos, ele estava caído no chão, sofrido, quase desfalecido. Num primeiro momento, pensei que fosse morrer.
Instintivamente, comecei a falar manso, com voz serena, buscando com isso acalmá-lo.
Quando tentei colocá-lo sobre a poltrona, vi que ele agarrara-se tão forte ao meu dedo indicador, que tive que usar de muito jeito para não machucá-lo.
Seus olhinhos mostravam o sofrimento que vivia, minhas mãos sentiam o pulsar rápido do seu pequeno coração.
Em um pires de café, coloquei água fresca, e fui pingando com a ponta dos meus dedos, em seu bico, que se mantinha sempre aberto. Enquanto  meus dedos trabalhavam nessa tarefa, minha alma, fazia sentida prece aos Espíritos que cuidam da natureza. Pedi à Eles, que aliviassem a agonia dele. Porém, ele continuava ofegante, sem conseguir manter-se em pé. Continuei afagando-o, bem de leve em sua minúscula cabeça. 
Minutos depois, resolvi deixá-lo sozinho, quem sabe se sentiria menos estressado. De quando em quando voltava para vê-lo, afagava-lhe a cabeça, e falava macio, tentando infundir, serenidade, através dos cuidados, sei que doava-lhe forças. Há muito aprendi, que as mãos são receptoras e doadoras de bons fluidos.
Em uma de minhas visitas a ele, depois de mais de quatro horas, que se mantinha inerte, quando fui afagá-lo, vi que ele, já não mais arfava, e ao toque de meus dedos, me olhou e voou, indo pousar numa folha da alta palmeira imperial que tenho no quintal.
De lá, antes de voar para mais longe, a pequena ave me olhou mais uma vez. E pude sentir gratidão naqueles miúdos e serenos olhinhos.



(Imagem: Lenapena- nessa foto ele já estava se recuperando)
Lenapena
Enviado por Lenapena em 13/08/2015
Reeditado em 13/08/2015
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