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A Mulher e o Cabeleireiro

(UMA CRÔNICA BEM ANTIGA...)



Bem, hoje em dia, não se usa mais o termo 'cabeleireiro.' Prefere-se 'hair designer', ou 'hair stylist', ou outras coisas desse tipo, que no fundo, nada mais significam que 'cabeleireiro!' Aliás, uma profissão muito importante, porque lida com sonhos e emoções femininos. 
 
 
Eu acho até que alguns cabeleireiros - ou 'hair stylists' - passaram algum tempo cursando psicologia, ou então, estudando Teologia, pois muitos salões de beleza - ou 'beauty parlors', ou 'saloons', ou seja lá o que você preferir - parecem verdadeiros confessionários. Ali, a roupa suja é lavada em público. A nossa e a alheia. Também fica-se por dentro das novidades, através do Jornal da Manicure.
 
 
Mas existe algo de muito mais profundo, uma relação anímica entre uma mulher e seu cabeleireiro - ou hair stylist, ou... bem, deixa pra lá.
 
 
Uma mulher estica seu cabelo. Alisa. Alonga. Apara as pontas. Muda radicalmente a cor ou o corte. Massageia. Enrola. Ondula. Mas enquanto está vivendo cada um desses processos, existe alguma coisa dentro dela que também clama por modificar-se. Dizem que a mulher que está sofrendo os efeitos da idade, gosta de repicar as pontas a fim de parecer mais jovem. E a que gosta de modificar totalmente a aparência, está tentando modificar (ou esconder) algum aspecto importante de si mesma.  A tradicionalista, ou a conservadora,que mantém sempre o mesmo corte ou a mesma cor durante muitos anos, tem medo das mudanças, ou está tentando negar uma parte de si mesma.
 
 
Bem, pode ser que tudo isso seja apenas bobagem!
 
 
Mas supondo que não seja:  um cabeleireiro precisa estar ciente de sua importância na vida das mulheres. Um corte de cabelo desastroso (como já me aconteceu muitas e muitas vezes) pode deixar uma marca profunda na autoestima de uma mulher, além de ser para o cabeleireiro, um atestado de incapacidade profissional.
 
 Existem dois tipos de profissionais que não podem cometer erros, pois eles são mortais: médicos e cabeleireiros. Não concordo com os cabeleireiros que se justificam, dizendo 'serem humanos e estarem propensos a erros.' Cabeleireiros não podem contentar-se em ser seres  humanos, tem que ser deuses! ou então, são maus profissionais. E ponto final.
 
 
Decidido isto, existem mil sutilezas e objetivos escondidos atrás de uma simples ida ao cabeleireiro.  Uma mulher visita seu cabeleireiro (quando não regularmente) se a sua autoestima não anda bem. Ela quer saber que existe uma esperança de modificar tudo ao seu redor, e acha que começando por fora, será mais fácil continuar a mudança por dentro. Ela quer que lhe deem esperança. Quer ser elogiada, quer ouvir alguém dizer que ela está/ficou linda. Muitas vezes, quer ouvir a famosa frase: "Você ficou bem mais jovem com esse corte!"
 
 
Uma tesourada aqui, um brilho ali, e... pronto! A borboleta está pronta para sair do casulo!
 
 
Quer acabar com uma mulher? basta dizer a ela, sobre um corte de cabelo: "Está diferente..." , "Ficou legalzinho..." , "gostava mais antes..." ou, pior ainda: "Não se preocupe; vai crescer!" fazer comentários como estes pode significar correr um grande risco de sofrer uma agressão, verbal ou física, ou então, de tornar-se testemunha de uma mulher arrasada e em prantos. pior ainda, é nem sequer notar a mudança! Sem comentários...
 
 
Após uma ida ao cabeleireiro, é comum que uma mulher tome um verdadeiro banho de loja. Ela experimenta novos estilos e cores, que combinem com sua nova personalidade. Personalidade esta que vai voltando a ser a mesma de antes, conforme o cabelo vai perdendo o corte, mas mesmo assim, é uma mudança. Ou uma bela tentativa.
 
 
E essa mudança é tão importante, que um dos negócios mais lucrativos hoje em dia, é o salão de beleza. Mulheres gastam verdadeiras fortunas todos os meses, com cabelos, unhas, pele e pelos. Seria sinal de um enorme vazio existencial, ou apenas uma autovalorização? Não sei... acho que existem os dois casos. Ou talvez ambos os casos acabem se misturando.
 
 
Bem, depois de tudo isso escrito, acho que vou ligar para o meu cabeleireiro, pois ando pensando em dar uma repicada, talvez...


 
Ana Bailune
Enviado por Ana Bailune em 13/08/2015
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