O EMBATE ENTRE LUCIDEZ E LOUCURA

Aconteceu há milênios, e até hoje há quem repita, sem entender nada:

“ SÓ SEI QUE NADA SEI! “

Quando um pensador fez tal afirmação, naquele tempo, teve a intenção de esclarecer que por mais que se saiba, sempre há muito mais por saber.

Não há sequer uma pessoa no mundo sem deter algum conhecimento.

Aliás, nunca houve um vivente neste planeta, em todas as épocas, que não soubesse algo, mesmo que fosse a praticidade do cotidiano, se mentalmente são.

Temos, portanto, os dois extremos da consciência humana e todas as variantes neles contidas, que estabelecem, informalmente, o modo como interagimos com os semelhantes, com os demais seres vivos, com o ambiente e todo o universo (ou o que dele alcançamos).

Nosso pequeno mundo, nosso planeta, está dentro de um imenso espaço (e bota imenso nisso), que possui uma gama incontável de outros planetas, de vários tamanhos, estrelas, cometas, asteróides, buracos negros e o ajuntamento desses astros, como as constelações, galáxias, nebulosas e mais um tanto de coisas, fatos e fenômenos que ignoramos ou dos quais cultivamos poucas informações. Esse imenso espaço, que denominamos sideral, forma o todo que convencionamos chamar de universo. Todo nosso planeta, toda nossa humanidade, de mais de sete bilhões de pessoas, que concebemos como uma quantidade gigantesca, não passa de um nada, de algo desprezível ou mesmo insignificante, ante a grandeza de tal universo.

Todo nosso conhecimento se aplica ao nosso mundinho e se desenvolveu a partir da observação das coisas que acontecem e aconteceram ao longo de toda a história conhecida da presença do ser humano na terra ou mesmo antes disso. Todas as ciências e suas bases teóricas ou leis (regras) fundamentais, nasceram de observações e raciocínio lógico aplicado a elas. Hoje temos cursos acadêmicos, conjuntos de disciplinas, trabalhos de conclusão de tais cursos universitários, defesas de teses para reconhecimento de mestrado ou doutorado em alguma área científica, mas ... tudo que hoje está regrado e burocratizado, surgiu de experiências informais, observações, tentativa e erro, empirismo. Com o passar do tempo, as instituições vão formalizando as descobertas e invenções, de tal forma que, ao vulgo ou alguém menos observador, parecerá que todo o conhecimento hoje existente sempre esteve como atualmente está e se encontra estratificado, concluído, sem necessidade de constantes e novas observações, para um aprimoramento que deve sempre ser buscado ou uma revisão de conceitos, que sempre é cabível.

Muitos conceitos, regras e convenções que se aplicam à nossa vida cotidiana ou ao funcionamento de nossas referências e procedimentos, podem servir ao propósito de organizar a base de toda a movimentação social da civilização mundial, mesmo que com muitos problemas e irregularidades, mas ao mesmo tempo em que facilitam nossa interação com a sociedade e nossa inclusão social, também delimitam nosso campo de ação e reflexão.

Se você pensar em trabalho, estudo, lazer, esporte, comércio, sexo ou saúde, terá em sua mente vários parâmetros já previamente estabelecidos, a partir dos quais desenvolverá uma linha de raciocínio que determinará o procedimento a ser adotado a seguir, mas se o assunto diz respeito a algo fora do comum ou até mesmo fora das coisas deste mundo, muito provavelmente sua mente não terá uma regra em que se apoiar ou um referencial para encaminhar suas idéias, e como somos controlados por regras e condições (que geralmente nunca percebemos) e não sabemos agir independentemente, caímos num vazio mental, que pode desaguar em crenças, superstições, ceticismo ou cientificismo.

Nossa medida de tempo, nossas grandezas, nossas medidas de espaço, nossos conceitos de vida e morte, de saúde e doença, de normalidade e anormalidade, do que é comum ou incomum, nossa moral, ética, nossa visão das coisas materiais ou imateriais (e até mesmo a existência do imaterial) são referências locais, aplicáveis a este cantinho minúsculo do universo, e mesmo aqui, nem sempre são inquestionáveis ou funcionais. Não sabemos se existem outros como nós em outros locais do universo, nem como é exatamente esse universo, nem se existem outros diferentes de nós, menos ou mais capacitados, se há outras condições de existência fora desta realidade física (dimensões paralelas), mas já existe muita especulação nos meios acadêmicos e começamos a desconfiar que todas essas regras e condições que estabelecemos e seguimos são precárias e limitadas.

Os que, entre nós, sabem mais ou podem mais, sabem tão pouco e podem tão pouco, em relação à natureza e o mundo que nos envolve, que aplicar os verbos “poder” e “saber” nesses casos, parece uma designação hiperbólica descabida.

Voltando à vaca fria e considerando estas condições observadas, podemos notar três coisas, razoavelmente, definidas:

- todo nosso conhecimento, em todas as áreas de atividade e estudo, ainda é bem irrisório e surgiu de tentativa e erro. Ainda erramos muito e estamos tateando.

- Perante a grandeza universal, a diferença entre o mais sábio dos humanos daqui e o mais ignorante, é desprezível. Ambos são insignificantes, perante o todo. Ao mesmo tempo, ambos são fragmentos semelhantes da essência criadora.

- Nossos parâmetros para definir lucidez e loucura são extremamente precários e imprecisos, e se é, praticamente, impossível achar uma pessoa totalmente lúcida, podemos concluir que somos todos loucóides, internados num manicômio orbital imenso, agindo agressivamente e crendo que somos cultos e inteligentes.

- Entre nós, humanos, pode-se dizer que o mais são ainda baba.

A única maneira de suavizar nossa própria loucura é ouvir mais, observar melhor e falar o menos possível. Aliás, falei demais. Perdão e até.

nuno andrada
Enviado por nuno andrada em 11/08/2015
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