PAJÉ! O MÉDICO DA FLORESTA
Há algum tempo atrás,
A nossa farmácia vinha da natureza.
O pajé era o médico principal.
Sua força e sabedoria com ele já nascia,
E quem escolhia era a ancestralidade.
Já adulto passava por um grande ritual,
A mata, a água, a terra, o silêncio,
Tudo era importante,
E para que seu poder de cura ficasse mais forte
Obedecia uma dieta alimentar.
No sonho, no canto, na dança a cura era presença,
Com maracas invocava Nanderú.
Os mais experientes orientavam os mais jovens,
No seguimento da cura, abençoando a cunhã mukú.
Com o tempo apareceu o branco,
Com sua cultura nesse lugar,
Viu com estranheza a sabedoria milenar,
Chamou o pajé de "demônio"
Confundiu o nosso pensar.
Convertidos viraram irmãos,
Mas a sabedoria não deixa de pulsar,
O branco não sabia que os povos,
Não podem deixar de celebrar,
A espiritualidade na alma,
"Dom"? Como queira chamar,
Mas é fato e será cobrado,
Se seu "dom" ao outro negar.
Precisamos respeitar os pajés,
E a cultura de cada lugar,
As aldeias estão perdendo,
O médico, que pela força da luz pode salvar.
Hoje a aldeia está cada vez mais doente,
Pela falta de zelo com o que lhe é sagrado,
Já não se vê mais as crianças na aldeia,
Ir ao pajé pra serem rezadas contra "mal olhado".
O pajé deixou seu maracá,
E não sabe quando voltará a usar.
A juventude já não vê o pajé como antes,
Sua presença já é raridade pra quem o deseja encontrar.
A natureza chora calada,
Orvalhando a manhã pra avisar,
Que precisam deixar os povos em paz,
Respeitar o "outro" em sua essência
É fazer o Deus do branco presente
Na sabedoria que por ele nos fez capaz.
Que o nosso pajé possa vestir
Sua roupa sagrada e seu cocar,
Pegar seu maracá e dançar
Expulsando quem na aldeia vem querer
A cultura modificar e sua crença implantar.
Já temos nossa crença
Que vem por gerações,
Não deixe que tirem de você,
O que te deu os anciões.
Temos nossa cultura,
Somos filhos de uitú,
Escuta teu coração
Chamando por Nanderú e Senerú.
Vida longas aos nossos pajés!