O Velho e o Saco

Muito se fala sobre o Velho do saco, há várias teorias a respeito de sua trajetória e de como ele chegou a tal penúria. Já ouvi dizer que ele era um místico cigano, um menino amaldiçoado pela mãe e que foi até sobrinho do capeta, mas a verdadeira estória foi me contada há um tempo atrás por Seu Virgílio, antes do google, Seu Virgílio é quem sabia de tudo, de tudo mesmo: A escalação do Bragantino, o pai de cada vira lata do bairro, o nome de todas as ruas do Parque Sto. Antônio e o nome do cobrador de todas a linhas de ônibus que iam para Santo Amaro, não havia mistério que ele não descobrisse a origem! Sinônimo de credibilidade que agrega veracidade a este conto que apenas repasso. Outro argumento que pode ser determinante para o acreditamento desta fabula é que o Sr. Eurico Oldbags, nome verdadeiro do Velho do saco, foi colega íntimo de seu Virgílio, e isto pude testemunhar em uma conversa em que os dois pareciam ter intimidade e amizade, na verdade Seu Virgílio foi a única pessoa com quem eu vi ele conversar.

Na verdadeira estória não há feitiço, maldição ou obra do Coisa-ruim, a verdadeira estória é plenamente mais humana e ligeiramente irônica, foi me contada num Domingo de Ramos enquanto eu ia comprar tubaína. Podemos definir nossa personagem como um velho e de cor indeterminada que carregava e vestia milhares de sacos, antes de leis municipais restringirem e limitarem a utilização de sacolas era possível acumula-las a ponto de fazermos um barco veleiro e o Velho do saco estava na vanguarda disso. Muitas mães diziam que nos sacos haviam crianças malcriadas que ele levaria para o córrego, e por isso quando ele chegava as crianças tudo corriam para dentro de casa, largavam os chinelos nas ruas e também até paravam o futebol, depois espiavam pela janela para vê-lo passar. Seu Virgílio dizia que esta correria era a prova que toda criança tinha dúvida a respeito da sua má-criação. Nas sacolas na verdade havia muito dinheiro, mais de um bilhão de cruzeiros que ele sacou em três vezes no antigo Banespa, há indícios que o verdadeiro motivo para o falecimento do banco foi por conta disso. Naquela época haviam rumores de confisco e prejuízos e Seu Eurico que não era muito rico mas guardava dinheiro desde de moleque, não iria correr o risco e com medo sacou tudo do banco e enterrou no quintal ao lado de margaridas. Ele plantou no quintal as sementes de sua tragédia e o primeiro fruto foi sua inquietação, não tinha mais sossego pois suspeitava que todo mundo queria pegar o seu tesouro, desconfiava da empregada, do vizinho, do cunhado, do genro e até do carteiro. Aí ele guardou a grana em sacolas e não largava de jeito nenhum, chutou o santo e mandou a família pro inferno, foi para rua e se fingiu de mendigo, porque ninguém desconfiaria, o seu disfarce logo ganhou a alcunha de Velho do saco e tudo além disso é mito e imaginação.

Seu Virgílio me contou desse jeito, em duas ou três linhas, com seu estilo literário e objetivo de contar epopeias. Enquanto tomava minha tubaína pensei: Que diabo quer dizer tudo isso meu Deus!