Tempos de João de Deus

(Escrito há onze ou doze anos)

O Vaticano deverá anunciar brevemente uma boa-nova. E em seu bojo, um aumento. Que deve ser de Graça, entretanto, além das indulgências: o Rosário vai passar ser rezado com a contemplação em quatro mistérios, ao invés três originais, que são os gozosos, os dolorosos e os gloriosos. Os da nova adição devem ter o nome de

mistérios de luz e vão exaltar a vida pública de Jesus.

Dos 33 anos que viveu na terra, Jesus passou três deles publicamente, pregando, ensinando e operando milagres. E morreu moço. Fosse hoje, não teria ainda alcançado a idade para ser elegível a senador, governador ou presidente, que se não me engano, é de 35 anos. E no entanto, teve o Nazareno três anos de vida pública.

Mas cargo público mesmo, não exerceu. Nem ligou para DAS, função gratificada, nada. Tampouco foi remunerado por sua ação de magistério. E ao final foi até vendido por um de seus apóstolos, pelo preço vil de 30 dinheiros.

Jesus fazia uma distinção muito clara entre o que pertencia ao reino do espírito e ao da carne. É célebre aquela sua sentença na questão dos tributos: A César o que é de César e a Deus o que é de Deus. O César referido aí não é o Maia. Já Deus, bem, esse só pode sê-Lo.

Voltemos à novidade Vaticana: o Rosário passará a ter então vinte, ao invés dos 15 mistérios, e consequentemente, 200 Ave-Marias ao invés das atuais 150. É um aumento substantivo, mas na visão do Pastor João Paulo II, Ponfífex Maximus, faz sentido. E é a primeira mexida no Rosário desde 1205, quando ele foi criado por um padre dominicano.

Enquanto até as constituições mudam - muitas vezes nem são respeitadas - a nova mudança no Rosário deve durar, além de à eternidade levar. Pena é que o Terço, que é ainda a terça parte do atual Rosário não poderá mais ser exato, se for ajustado às contas futuras. Tente dividir 20 por 3. Dá uma dízima periódica simples, mas um tanto complicada na aplicação. Assim, o Terço, em breve,

passará a ser o Quarto.

Para aqueles que têm visão mais cartesiana, a impressão que fica é que a inflação pegou até a rota da Salvação. Mas tudo há de se compensar, com esses mistérios de luz a nos iluminar. Ou, no sublime prazer, incandescer.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 10/08/2015
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