Amplos Poderes
Dada à presença e importância esmagadora do capital nas sociedades ocidentais, e mesmo em todo o mundo, como não admitir que a “clientela anunciadora não exerça a mínima influência sobre a parte redatorial de um jornal”?
Donde se conclui que, basicamente, só se publica o que for do agrado dos anunciantes. Caso contrário, os anunciantes fogem do jornal e ele deixará de vender e, depois, de circular pela ausência de patrocínio.
Trata-se da situação mais natural num mundo onde o capitalismo predomina, embora tudo deva ou devesse convergir para o social. Como pode um periódico sustentar com independência determinada posição ou linha de pensamento se essa conduta é contrária aos interesses daqueles de quem se depende para o fortalecimento do veículo?
Terá sido por isso que o JB deixou de existir?
O governo, por exemplo, é um dos grandes anunciantes de um jornal. Se o jornal diverge da maneira pela qual o governo atua, será natural que ele não passe a dispor dos anúncios do governo. E só poderá se manter se tiver uma soma de anunciantes capaz de compensar a perda dos anúncios do governo. Sendo obviamente esse anunciantes anti-governistas.
Sendo o objeto da imprensa a informação e, por extensão, a formação da opinião pública, podemos concluir que teremos prioritariamente acesso àquilo que os interesses comerciais determinarem. O que não precisa e não tem necessariamente que corresponder ao verdadeiro núcleo de determinada questão.
Do que se pode inferir, por exemplo, que a inflação pode ser muito maior que os índices anunciados pelo governo ou muito menor que os proclamados pelos anti-governistas.
Nada falamos de novo. Apenas quisemos lembrar o poder enganador (e corruptor) que o dinheiro tem.
Rio, 10/07/2015