A descoberta de ti próprio

Vai!... Segue contigo mesmo, mãos dadas como nunca o fizeras antes, para que, em momento algum, não sintas o gosto amargo da solidão e penetra em teu âmago. Atravessa afoito as florestas das decepções e dores, examinando, em cada uma, o que de mais de profundo; repara: elas que, ao longo de tua existência, pareciam tão majestosas e intransponíveis, em suas intimidades, isoladamente, perdem o brilho que as revestiam, mostram-se agora como realmente o são, inúteis!

Não te detém, prossegue! Vadeia os riachos da sabedoria que flui, cristalina, despencando das pedras negras das convenções. Bebe de sua água, sentir-te-ás reanimado para a longa peregrinação. Contudo, aí não te detenhas além do tempo necessário para saciar a sede; ela, ainda não é o fim que procuras, mas, sim, um meio de encontrá-lo.

Sobe, agora, ao alto das montanhas das pretensões; são íngremes e imponentes, porém o são por força de tua própria vontade, assim as construístes. Sente o suor, em bagas, molhando a teu corpo, as pernas arqueando-se com o esforço, os pulmões estourando, ansiosos, em busca do ar, o coração descompassado lançando o sangue que teu organismo reclama. Recorda-te da água, porém que o recordar não seja motivo para desespero, mas alento para prosseguir.

E persiste!... Porém, antes, despoja-te de tuas vestes e, mais ainda, das pretensões que ainda pretendera acumular. Descansa, já estamos chegando. Mas, aproveita o parco tempo para contemplar o muito que pretenderas, esquecendo-te que toda a imensidão dos céus pode ser contida em uma poça d´água. Sentes-te cansado, porém apóia-te em ti mesmo e baixa ao vale das esperanças.

Não é tão belo assim, agora que a noite cai, criando sombras entre o que se afigura como ruínas. Não foge!... Repara que, apesar de desgastadas pelo tempo, ainda brilham com os últimos raios do sol. Não, não queiras passar adiante, sem que antes afague uma qualquer, escolhida ao acaso. Veja como, se polida, ainda brilha e resplandece o brilho de mil sóis, ofuscando-te como antigamente. Deixa que as lágrimas corram céleres pela face, ao relembrares o quanto representaram outrora.

Vamos, pega-as uma a uma, às dezenas, centenas, milhares, milhões, são tuas amigas, deixa que teu pranto dissolva a poeira do tempo e vê como todas elas tornam a brilhar, até mesma aquelas que julgavas mortas, ou as que matastes friamente com o punhal covarde do amadurecimento.

E agora, cresce!.... Cresce e sintas-te integrar às florestas, riachos, pedras, montanhas, vales e sol, às dores, decepções, sabedorias e, sobretudo, às esperanças – são tua própria vida. Sintas, em tua grandeza, integrar-te ao universo, expandindo-te à velocidade mil vezes superior à da luz, em toda sua extensão e vê que tudo, ínfimo e infinito, sempre o fostes.
LHMignone
Enviado por LHMignone em 24/09/2005
Reeditado em 11/04/2017
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