Meu Pai
Pequeno agropecuarista do Vale do São Francisco, à margem direita do rio, na divisa da Bahia com Pernambuco, possuía alguns hectares de terras e um pequeno rebanho de gado. Satisfazia-o não precisar de emprego para sobreviver. Dizia que “ser empregado era ser cativo”. Desejava para os filhos apenas maior quantidade do que ele tinha. Em termos de escola, bastava aprender a ler e escrever e, na matemática, saber as quatro operações. Era assim que controlava seu caderno de anotações, indicando lucro ou prejuízo em seus negócios. Entretanto, como é natural no Nordeste, nós víamos sua preocupação para salvar seu rebanho, quando a malvada da seca atacava. Por isso, com exceção do caçula que ali ficou, todos debandaram para a cidade. Com o tempo, tornaram-se funcionários públicos federais, com a devida estabilidade. Assim, nessa condição, dizia ele não ser “cativo”, mas, motivo de orgulho.
Certa vez, estava eu na minha primeira profissão, a de Radiotelegrafista, quando ele ali chegou para conhecer o meu trabalho. Estava eu de fones nos ouvidos e dedilhando o manipulador de radiotelegrafia, quando sinalizei que aguardasse um pouco, enquanto terminava de transmitir a mensagem. Retirados os fones, fui abraçá-lo e falar do meu trabalho. Mas, antes disso, ele já perguntava que piripipi era aquele. Difícil ele entender o que seria o código “Morse”. Apenas lhe disse que estava transmitindo uma mensagem para Brasília, a Capital da República. Era ali a sede da empresa. Não precisou mais que isso para que ele alargasse o sorriso e dissesse: “cabra bom...!!!”
A ele a minha homenagem pelo dia dos pais e a minha gratidão por ter herdado dele o bem mais precioso: o caráter. Era um sertanejo de fibra, cuja palavra valia mais que qualquer documento assinando. Como dizia Valdir Amaral em relação a Mário Viana: “Mário Viana falou tá falado”.